Joana Borda d’Água. Partilhamos a mesma geração e a mesma terra. A Joana frequentou a mesma escola secundária que eu, o velhinho Liceu, foi estudar arquitetura para Coimbra, acabou o curso, entrou no mercado de trabalho. Percurso de louvar, mas seguido, vezes sem conta, por tantos outros. O que não é normal, e que faz da Joana um caso verdadeiramente especial, é que colocou de lado a arquitetura para abrir ou reabrir a antiga drogaria do seu avô, localizada bem no coração do centro histórico de Abrantes (sim, a minha Abrantes). Isto há quase 6 anos. Colocou-lhe o nome de Drogaria Nova e fez da drogaria um espaço tridimensional. Um viagem ao passado, prolongando e homenageando a memória do seu avô. Um presente prospero e criativo. E um futuro, que lhe permite ver além da rotina. Arrisco a dizer que a Drogaria Nova é o projeto mais cool da cidade de Abrantes. Aquele que encaixava que nem uma luva em qualquer cidade cosmopolita, do Mundo (estavam à espera que escrevesse Portugal, certo?).

A história da drogaria começa em 1943, com um traço muito semelhante aquele que ainda tem hoje. Vendia, assim muito basicamente, tudo. Desde ferragens, a xaropes para tosse, passando por vassouras e terminando em sabonetes. Este era o conceito delicioso das antigas drogarias: “tudo o que precisar, nos temos, pode não ser hoje, mas amanhã já temos”. Há uns tempos, visitei um armazém de uma antiga drogaria, parecia um lugar infinito. Acredito que o conceito da loja do avô da Joana fosse o mesmo, tanto que ainda hoje se podem ver na Drogaria Nova antigos objetos que estariam à venda da loja do avô Borda d’Água. O avô da Joana trabalhou e conservou a sua drogaria quase até morrer. Acredito que fosse muito mais do que um trabalho para ele. Consegue-se sentir isso, tanto pelo carinho que a Joana transmite ao contar as histórias do avô, quer pela própria identidade visual de transporte conservada entre a drogaria antiga e a drogaria nova. Nota-se carinho na estrutura e nos objetos. Com a morte do avô, além do vazio humano, ficou o vazio da loja. Loja de memórias também para a Joana. Entre múltiplas ideias, para uma nova vida da drogaria, a Joana e sua família, seguiram o mesmo principio que eu sigo em quase tudo na minha vida, seguiram o coração. Mantiveram o traço original da drogaria,  mas com um conceito vanguardista. Em Dezembro de 2013, nasce a Drogaria Nova. Uma drogaria disfarçada de loja vintage. E uma loja vintage disfarçada de loja moderna. Um dos meus conceitos favoritos, onde a base é não existir fronteiras que nos limitem.

Quase todos os produtos da loja da Joana são nacionais, desde os clássicos Bordallo Pinheiro e Benamor, até a produtos contemporâneos, fruto da constante pesquisa da Joana sobre o bem que se anda a fazer por aí, fazendo da sua loja um objeto em constante mutação, quase que diria sazonal, não só em função das estações do ano, mas, sobretudo, em função dos processos criativos emergentes. É uma delícia seguir o Facebook da Drogaria Nova e o anúncio constante de novos produtos a chegar. Sim, sou cliente.

A Joana surge aqui, e com este destaque, como exemplo da criatividade e vanguardismo, mas com uma base sólida de histórias e tradição. Comprar um produto da loja da Joana, muito mais do que superar uma necessidade, é uma experiência. É entrar na história da Joana. 

Acredito que são as pessoas, e as suas histórias, que dão vida a lugares e que os fazem especiais. 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

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