Chama-se Jijona ou Xixona, em Valenciano. Fica a dois passos de Alicante e a dois passos do mar Mediterrâneo. Esta é a verdadeira terra do Torrão de Alicante. É por aqui que são feitos os clássicos. Estive por lá no inicio deste Verão.

Chegar a Jijona faz lembrar os clássicos do Western Spaghetti, como O Bom, o Mau e o Vilão ou Por Um Punhado de Dólares. Apesar da proximidade com o mar (fica a cerca de 20km), o clima é árido, um calor cortante e paisagem amarelo torrado, quase a lembrar os longos desertos norte americanos (muitos dos weterns norte americanos foram filmados não muito longe de Jijona…apenas confirmei a proximidade). Cheguei perto da hora de almoço e não vi viva alma das quase 7 mil que vivem por ali. Acho que seria os efeitos do calor. Perceptível.

Comecei a minha visita a Jijona, com uma visita ao museu do…Torrão, está claro. Que ao mesmo tempo é uma das principais fábricas desde clássico da gastronomia ibérica. Entre provas dos mais variados tipos de torrão, achei piada à afirmação que o nome Torrão de Alicante estava registado e patenteado, ou seja, só se pode chamar Torrão de Alicante ao pertencente a esta região de origem controlada (controlada pela receita e, sobretudo, pela qualidade e quantidade das amêndoas utilizadas). Se esta malta de Jijona aparece numa qualquer feira portuguesa, o ataque cardíaco é certo. Descobri que o nosso afamado Torrão de Alicante, que tanta vez pedia à minha Mãe para comprar, e com o qual tive várias lutas titânicas para o separar dos meus dentes (a quem nunca isto aconteceu que levante o braço? 😉 ), vivia (e vive) na ilegalidade. É parecido, mas não tem nada a ver com este. Começando com o facto de levar cerca de 3 amêndoas e o resto é açúcar, enquanto no original, a receita é invertida, mais amêndoas e menos açúcar (embora, como é obvio, leve uma quantidade generosa). Terminei a visita, com a mesma sensação que já tinha tido nos restantes lugares que visitei na Costa Blanca (Alicante e Benidorm). Isto dos espanhóis serem antipáticos é mito, quase tão grande como a existência do gigante Adamastor. Gente super simpática. E sem ser aquele sorriso amarelo para turista ver. Gente boa, que existe por aqui.

Dei uma pequena volta pela, quase deserta, vila de Jijona. Apesar de pouco tempo, achei-a muito fotogênica, talvez pela sua autenticidade, com uma espécie de caracter forte, do género “sou como sou”, sem grandes máscaras. Visitei uma pequena capela e uma pequena pastelaria, que funcionava com um forno a lenha, em que a sua proprietária protagonizava um electrizante “one man show”, sozinha naquela pastelaria/forneria. Ora “fabricava” os bolos, ora atendia os clientes, ainda tinha tempo de fazer o almoço (no forno) e como extra, ainda usava um auricular, não sei se para receber pedidos de bolos, ou para falar com os filhos. Mas sempre a rir. Como diria alguém que eu conheço “mulheres como esta, já não se fabricam”. Talvez seja verdade.

No final deste périplo por Jijona, com traços que a ligam ao deserto, eis que encontro um verdadeiro oásis. O restaurante do almoço, já tardio (tinha que ser, tal foi a quantidade de torrões que comi), chamado L’Entrepa, é, arrisco a dizer, genial. Sinceramente, nem nos meus melhores pensamentos, pensei encontrar um restaurante com esta qualidade por aqui. As raparigas que trabalhavam no restaurante pareciam saídas, não de um western, mas de um filme de época, com bom gosto. Sempre de sorriso em punho. O espaço, simples, mas super aconchegante, apetecia lá estar. Depois, e mais importante, a comida. Superba. Em terra de Torrão de Alicante, arriscaram e criaram pratos de autor, ao melhor estilo das tapas espanholas, onde todos, mas todos os pratos, tem de alguma forma o sabor a Torrão de Alicante associado. Desde o bacalhau ao gelado. Digo-vos, era capaz de voltar a esta região, só para voltar a comer aqui.

No final do dia, sim, porque o almoço durou, entre conversas ibéricas, onde as nossas semelhanças não são apenas geográficas, lá voltei a Alicante. Gostei desta Jijona.


 

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