Quando cheguei o dia já tinha começado em Soure. As pessoas circulavam pelas ruas com os cestos de compras, o carteiro fazia o seu trabalho e o café central tinha a sua esplanada cheia. Comecei a explorar Soure e as suas ruelas, como melhor sei fazer. A pé, observando invisível os movimentos das suas pessoas. Nas normais rotinas diárias se percebe o coração de um lugar. Começo pelo bonito Parque dos Bacelos, junto ao rio, onde dezenas de crianças corriam como se não existisse amanhã. É claro que pensei na minha Alice e em como daqui a uns anos também será feliz por ali. Coisas simples e boas da vida. Atravesso o parque e rapidamente chego ao ponto estratégico de Soure, uma espécie de ponto número 1 de qualquer viagem que se faça por aqui. O Castelo. Do antigo castelo, que já pertenceu à Ordem Templários, resta pouco mais que uma muralha e duas torres, mas ainda assim, suficiente para prender o meu olhar. A primeira coisa que me faz viajar no tempo, é o facto de o castelo não estar num ponto alto. Na verdade está praticamente ao nível do mar. Acredito que pertencesse à linha de defesa de Coimbra, talvez a proximidade com o rio fizesse dele uma espécie de entreposto comercial fortificado. Ou talvez a construção do castelo esteja ligada a uma história de amor (gosto de manter todas as hipóteses em aberto). Muitas interrogações, como eu gosto. Faz-me sonhar. Hoje o castelo funde-se com a vila e as suas muralhas fazem paredes meias com outras habitações. Continuei a minha viagem. Imaginem agora o topo de uma montanha russa, o local mais alto, onde começa (de uma forma desenfreada) toda a viagem? Conseguem? Foi isso que aconteceu, após a visita ao castelo fui aglutinado pela ruas, ruelas e becos de Soure. Rapidamente percebi que as minhas expectativas sobre Soure estavam certas. É um lugar genuíno, onde o tempo não tem pressa de passar. É uma vila com a delicadeza de uma aldeia. Acredito que todos se conheçam por aqui. Não existem grandes superfícies e o comércio local é a alma do lugar. Lojas e mais lojas, pequenas e com movimento. Não são as lojas do grupo x ou y, é a loja da Dona Maria ou do Senhor Manuel. Não é delicioso? Diria que raro (para um centro de vila). Passei pelo largo da igreja, pelo jardim em frente ao bonito edifício da Câmara Municipal, visitei o Mercado Diário (sim, ao estilo tradicional) e sentei-me na praça central, junto à Caixa Geral de Depósitos, numa das muitas esplanadas que por ali existem e, simplesmente, deixei o tempo passar. Pedi uma água e fiquei. Entretanto a neblina já tinha passado e Soure tinha ganho uma nova cor. 

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

facebook  /  instagram

O Meu Escritório é lá Fora!, todos os direitos reservados © 2019