É tempo de vindima. Esse momento marcante vivido por diferentes gerações ao longo dos anos. Portugal é um país de vinho e de vinha, e a minha terra não é excepção. A Quinta (e adega…e vinha) do Casal da Coelheira fica em Tramagal, freguesia do concelho de Abrantes. Ali bem coladinha ao rio Tejo.

Tal como qualquer bom português, gosto de vinho. Mesmo na minha juventude, recordo os dias em que acompanhava o meu Pai à adega próxima de casa para comprar vinho. Recordo sobretudo o cheiro ao entrar na adega e apreciar aquelas cubas de vinho old school, com um azulejo a indicar a sua qualidade. Na altura não sentia um desejo ardente em beber o líquido mas já me fascinava todo o movimento à volta da cultura do vinho. Com base neste sentimento provocado pela memória, hoje, já com tamanho para um copo de vinho, acredito que esta história do vinho é muito mais do que simplesmente beber. Cada garrafa de vinho é história. Primeiro da particularidade da terra onde está plantada a sua vinha, depois no trabalho árduo da colheita, passando, é claro, pela arte de quem o faz e depois, não menos importante, pelos momentos que provoca à mesa. É para todos estes pontos, e mais alguns em falta, que olho e “bebo” a cada copo. Reforçando este sentimento, quando esse vinho é da nossa terra, um pouco da nossa história também está a ser contada a cada copo. Sim, é uma visão muito romântica. Sim, eu sou assim.

O Casal da Coelheira, propriedade, está dividida em 3 núcleos. A adega (e também loja), a quinta (que também é vinha) e a vinha (muito concentrada junto ao rio Tejo). Na adega, gosto sobretudo do cheiro a vinho (sim, cliché!)). Gosto de deambular pela cave, onde estão as barricas de carvalho, guardadas e preservadas tal como um tesouro. Gosto de ver a uva a chegar em tratores e assistir à azáfama do pessoal, para que nada falhe. Acredito que, (opinião de quem apenas bebe) embora se tenha uma noção da qualidade que virá de determinada de uva, o mais importante, em tempo de vindima, é encher a adega de uva. Depois de ela lá estar todo o procedimento segue naturalmente, e entra a criatividade do enólogo em acção. Sem uva é que nada feito. Nesta história da criatividade, acho notável que esta arte de fazer (vulgo, ser enólogo), tenha atingido patamares dignos de capa de revista. Tal como os cozinheiros passaram a chefs, os gajos da adega passaram a enólogos. Numa era tecnológica, acho delicioso que cada mais vez se valorizem estas artes que nos ligam à terra e que nos fazem enaltecer o que é nosso e que faz de nós diferentes.

A vinha do Casal da Coelheira, está localizada, maioritariamente, junto ao rio Tejo. Com um pôr do sol lindíssimo. Plantada num solo que parece quase a areia da praia. Falando em areia, algumas das vinhas chegam mesmo a ficar isoladas no Inverno, com a subida das águas, formando pequenas ilhas. Acho que no passado ninguém teria plantado vinha num terreno tão pobre. Hoje, acredito que é o que lhe dá carácter e alma, e que difere os vinhos do Casal da Coelheira dos demais. Se existe um ponto que marca esta região, esse ponto é rio Tejo. Aliás, a própria região de vinho tem o nome de Vinhos do Tejo. A cada copo, bebemos, neste caso, também um pouco da história deste rio. E também 10 almas, quase todas mulheres, que tal como pequenas formigas trabalhadoras colhem as uvas da vinha, com cerca de 70 hectares, e fazem desta vindima um momento especial.  

Para terminar, uma sugestão deste vosso amigo. Final do dia: ir à adega, comprar uma garrafa, pegar num copo e numa boa companhia, ir à vinha e desfrutar do pôr do sol, com um belíssimo copo de vinho, feito daquelas uvas. Sim, daquelas uvas. Para muitos, acredito que iria ser o melhor copo de vinho. De todo o sempre. 

Que o vinhos do Casal da Coelheira continuem a contar histórias da minha terra, por muitos e bons anos. 

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui. 

 

 

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