Tal como todas as boas histórias, o melhor é começar pelo inicio. E o inicio desta história, remonta ao final de Setembro, altura em fui convidado pela Indie Campers para embaixador da marca. Lembro-me perfeitamente do dia em recebi o email com o convite, onde me perguntei: “mas o que é isto da Indie Campers?!”. Na altura fiz uma pesquisa rápida no google e facebook, e fez-me logo brilhar os olhos (algo que me acontece quando fico entusiasmado) quando percebi o conceito desta malta. Tão simples, tão complexo e ao mesmo tempo tão: “porque não me lembrei disto antes!”. Conceito: carrinhas, de vários tamanhos, transformadas em auto-caravanas, para alugar, onde não é necessário fazer percursos circulares, ou seja, se eu alugo e apanho a carrinha no Porto, não é necessário deixá-la no Porto, posso, por exemplo, deixá-la em Nápoles. É neste último ponto, tão simples, mas tão difícil de operacionalizar, que esta Indie Campers inova e cria um produto que faz brilhar os olhos de todo e qualquer viajante.

Na altura estava muito ocupado, depois entrava o Inverno e resolvemos fazer esta viagem no final de Março. Pensei logo no norte de Espanha para destino desta viagem. Já conhecia algumas coisas, mas gostava de conhecer essa região na perspectiva de quem viaja de carro (e de quem dorme dentro do carro, tipo vagabundo dos tempos modernos 😉 ). Finalizando, ficou a viagem marcada para Março e inicio no Porto e final em Bilbao (local mais próximo da fronteira norte com França, onde é possível a entrega da carrinha), e, mais ou menos, 5 dias de viagem. Na altura existia a hipótese da Liliana vir comigo e escolhi a maior carrinha, a Motorhome, mas depois acabei por seguir caminho sozinho.


DIA 0 (Porto – Ponte de Lima) + DIA 1: PONTE DE LIMA – PUERTO DE VEGA

Comecei esta viagem num Domingo, 26 de Março, mas como já cheguei quase final de tarde ao Porto (ao Aeroporto, local de entrega) foi apenas uma espécie de dia 0. Não iria conseguir chegar muito longe e dava para testar a carrinha. Ponte de Lima foi o local escolhido para destino deste dia 0. Tudo tranquilo, apesar da muita chuva que apanhei. Estacionei o veículo/casa junto ao rio Lima, bem pertinho da Ponte Medieval e por ali fiquei. Tinha 3 vizinhos (caravanas) ao lado, mas esta malta, apesar de simpática, é muito cada um no seu canto. Não estranhei a cama e até adormeci bem ao som da chuva. Na manhã seguinte, lá se deu a primeira agonia. Todas as aventuras têm que ter pelos menos uma. Apesar de ter chuveiro, a água quente apenas funciona quando a carrinha estiver ligada à corrente eléctrica. Ou seja, num parque de campismo. Em parques de campismo “selvagens” ou tomas banho de água fria ou não tomas banho. Estava um frio do caraças, optei pela segunda opção. Isto já era manhã de segunda-feira, dia 1 de viagem.

Tinha planeado este dia, como o dia onde iria conduzir mais tempo e mais quilómetros. Iria sair de Ponte de Lima em direção à zona da Corunha e ficar por ali. Sem local definido. Era um que me agradasse. Quando pensava que tinha água quente, o plano seria ficar apenas em locais bonitos e não ficar em parques de campismo. Mas como ficar em hipotermia ou andar a cheirar mal, não eram hipóteses, sabia que mais tarde ou mais cedo iria parar num parque a sério (sem ser dos selvagens). Saí de Ponte de Lima em direção ao Gêres. Sempre deslumbrante esta região. Estradas estreitas, vales de perder de vista e aldeias de filmes fofinhos (ou de terror, se for noite 😉 ). Juro que quase me deu vontade de fazer esta viagem só por ali. Mas lá continuei caminho.

Num ápice já estava em Espanha e o Parque do Gêres continuava. E o rio Lima, aquele que passou nas minhas costas na noite passada, continuava a acompanhar-me. Aos poucos a paisagem do Gerês ia ficando com montanhas gigantes, com neve no topo, como pano de fundo. Impressionante cenário. Mas com a velocidade que aparecia, entre a as curvas, com a mesma velocidade desaparecia. Segui pelo interior da Galiza, paralelo às míticas cidades de Vigo e Santiago de Compostela. Ourense foi a maior cidade por onde passei. Confesso que as paisagens, na sua maioria, neste percurso não me deslumbraram. Sobretudo nas aldeias por onde passei, muito pouco cuidadas, quase a roçar o abandono. Mas o objetivo aqui era mesmo chegar ao mar. Era uma espécie de etapa de transição, com final feliz. Optei pela famosa Praia das Catedrais como destino final e por ali iria encontrar um lugar para dormir. Ao sair da estrada onde seguia, para um estrada mais curta em direção ao mar, tudo se alterou. Um verde, mesmo verde, parecia um relvado gigante, descia das montanhas e acabava no mar. Impressionante este primeiro impacto. Normalmente a vegetação da praia é seca e sem grande brilho. Mas aqui, o brilho do verde, fazia inveja ao tapete do Estádio da Luz. Mas não estou a falar de metros, era quilómetros, mas tarde percebi que é uma constante por aqui. Quase a lembrar a costas da Irlanda ou da Escócia, mas com clima mediterrânico.

A Praia das Catedrais não desiludiu. É umas das praias mais conhecidas de Espanha, digna de postal e bandeira desta região. Famosa pelos seus arcos naturais, que forma um enredo digno de um filma épico, daqueles com cavalos e espadas. Calhou-me em sorte a maré alta, quase não vi areia. Mas não me pareceu mais feio assim. Ainda percorri algumas das praias em volta, entusiasmado com o que estava a ver. O pior veio a seguir. Não encontrava um lugar para pernoitar. Aquela costa, ou seja, uns 10 quilómetros de costa, pareciam fechados para balanço (e se calhar estavam mesmo). Estava tudo um deserto. Parques de campismo fechados. Restaurantes fechados. Bairros sem viva alma. Depois, numa parte mais prática, os parques mais arranjadinhos, nos melhores locais, tinham todos um “proibido auto-caravanas”. Fiquei quase como quando faço um viagem de bicicleta e não encontro lugar para dormir. Cada quilómetro a mais era um pesadelo. Os lugares por onde passava eram muito bonitos, mas por uma razão ou por outra, fui passando. Andei estacionei, num espaço com uma vista muito bonita, quase colado à água, mas no topo de um monte e disse: “é mesmo aqui!”. Mas assim que parei, para começar a preparar as coisas para ficar, veio uma rabanada de vento que quase me derrubou e eu estava dentro da carrinha, só pensei: “se isto é assim às 5 da tarde, às 5 da manhã estou dentro de água, que o vento leva-me a carrinha”. Realmente era um local desabrigado e num zona que fazia muito vento. Não ia parar dentro de água, mas não iria conseguir dormir. Arrumei a trouxa e segui para outro lado. Segui em direção a Ribadeo, cidade concelho. Parques havia, mas a cidade pareceu-me tão desinteressante em comparação com o já tinha visto, fiquei sempre a pensar, meio arrependido de não ter decidido ficar num dos lugares lá atrás, que aqui não era o lugar que tinha “sonhado”. Arranquei sem destino. Segui o caminho, junto à costa, que tinha programado para o dia seguinte, com o compromisso, quando vir alguma coisa que me agrade, fico por lá. Ia na estrada, vi uma placa destinada a lugares “especiais” a 2000m, isto já tinha feito uns 20 quilómetros depois de Ribadeo, a povoação chamava-se Puerto de Vega, o nome agradou-me, fiz um pesquisa rápida no google, agradou-me, e disse para mim (epá, não tinha mais ninguém para quem falar 😉 ): “é aqui!”. Sem querer, fiquei num lugar quase perfeito.

Este Puerto de Vega, é uma pequena aldeia piscatória, com um porto de pesca (o nome não engana). Muito cuidada, quer a parte nova, quer a parte histórica, junto ao porto. Segui em direção ao porto, onde tinha indicação que existia um parque para auto-caravanas. Meti-me numa rua estreita e pensei: “já tás lixado! Não existe nenhum parque aqui e carrinha não vai caber aqui”. Parei e comecei a fazer marcha atrás. Um senhor lá da terra, percebeu o que se estava a passar e depressa correu na minha direção a dizer: “SIGA!”. Entre sorrisos e uns gracias gracias lá fiz o que ele disse e deparei-me com um parque gigante para auto-caravanas, colado ao porto, com a água ao lado, com vista para a aldeia e bem a tempo de assistir ao pôr do sol. Tudo corre bem, quando acaba bem.

Dormi que foi um descanso.


DIA 2: PUERTO DE VEGA – PICOS DA EUROPA

O dia nasceu bonito em Puerto de Vega. Quando coloquei a cabeça fora da carrinha, já os meus vizinhos suecos tinham partido. As nossas carrinhas eram as únicas no gigante parque de auto-caravanas desta simpática aldeia piscatória. Tomei o pequeno almoço, no interior da carrinha, com a porta lateral aberta. Tinha vista deslumbrante, a partir do Meu Escritório, para o enorme Oceano Atlântico. Senti-me, naquele momento, um privilegiado pela vida que tenho. Sinto isso várias vezes. Mas naquele momento, tive de sorrir, por tão abençoado que me estava a sentir. E por algo tão simples. Comer uma banana e uma sandes, dentro de uma Fiat Ducato transformada em “mini-casa”. Acho que parte do meu trabalho é mesmo isso, dar palavras a momentos simples e transformá-los em momentos grandiosos, valorizando-os. Acabei a minha banana e segui caminho, eram 9h00.

Segui em direção a Cudillero. Outra aldeia piscatória, esta mais turística (seja lá o que isso for). Por sugestão de um amigo, que quando soube da minha viagem pelo norte de Espanha, me falou de Cudillero como um protótipo astúriano das Cinque Terre (cinco aldeias italianas junto ao mar, na região da Ligúria, muito bonitas). Cudillero fica a cerca de 40km de Puerto Vega, a viagem foi rápida, o pior veio depois. Impossível estacionar na aldeia (pelo menos para uma auto-caravana). Não era permitida a entrada de veículos grandes no centro de aldeia (perfeitamente aceitável) e a única rua que restava (na aldeia) estava lotada (como seria de esperar). Tive de deixar o meu “castelo andante” fora da aldeia e caminhar até ao centro. Uma descida aos ziguezagues, por uma estrada estreita e entre casas de 2 ou 3 andares, muito cuidadas e de cores garridas (e variadas, umas vermelhas, outras azuis, outras verdes…uma salada de fruta engraçada). Este caminhar apertado desaguou na praça central, junto mar e junto ao porto. Esta praça era cuidadosamente contornada por várias camadas de pequenos prédios, encavalitados em cima uns dos outros. Mais uma vez, com cores variadas, transformando a praça numa espécie de pequeno estádio, com uma abertura para o mar. Como cheguei cedo e fora da época alta, tinha a praça quase só para mim. Os muitos restaurantes que existem por ali (metade da praça são esplanadas) preparavam o almoço, ainda fechados, e lá fui dando uma olhadela pelos menus. Como seria de esperar, quase em exclusivo, peixe e marisco. Senti pena de não ficar para o almoço. O pouco que vi, tinha um tremendo bom aspecto (e já dava para sentir o cheiro do lume a fustigar o carvão). Uma espécie de sai do mar e vai para a mesa. Lá voltei para minha carrinha, desta vez num ziguezague ao contrário e a subir forte e feito. Foram cerca de 2km assim. Com este esforço, cheguei à carrinha pronto para almoçar (ironia, certo). Muito encantador este Cudillero

Estava a começar a ficar encantado com as Astúrias, que sempre associei aos Picos da Europa, montanhas e neve. Mas que me estava a presentear com pequenas pérolas à beira-mar. Depois de Cudillero conduzi o Meu Escritório em direção a Oviedo e ao interior das Astúrias. Seguia em direção aos Picos da Europa. Se estava a ficar encantado com as Astúrias, depressa fiquei completamente rendido. Nem 20km tinha feito em direção ao interior, deixando para trás pequenas aldeias (de filme) junto a um mar imenso, e dei por mim num cenário típico de um Música no Coração (sim, aquele filme que dá sempre no Natal, passado nos Alpes Austríacos). Circulava por uma estrada belíssima, onde o verde imperava, com pequenas habitações de madeira (super bem cuidadas) a dar um toque de charme ao ambiente. Mas a cereja no topo do bolo, para os meus olhos, estava nos pequenos (mas gigantes, apenas estavam lá longe) cumes cobertos de neve, que contrastavam com o verde e castanho, tornando todo este espaço digno de um fundo de ecrã de qualquer computador que se preze.

Já era inicio da tarde quando cheguei a Cangas de Onís, mítica vila e porta de entrada Oeste dos Picos da Europa. Já tinha ouvido falar muito de Cangas de Onís e sinceramente surpreendeu-me na chegada. Muito maior e com muito mais gente do que estava à espera. Não posso deixar de referir a emblemática Ponte Romana, impossível ficar indiferente a quem passa por aqui. Com mais 600 anos desde a sua construção, a sua forma invulgar (muito inclinada, formando um grande arco) levou-me a estacionar o mais rápido possível (foi difícil arranjar lugar) e caminhar o mais rápido possível para junto da ponte para uma pequena sessão de fotos. Ao chegar perto, quase tão impressionante como a ponte e é a cor do rio Sella. Um verde azulado, a transpirar beleza e tranquilidade. Estava um dia muito bonito e estava a adorar estar por ali. Após uma boa dose de fotos e subidas ao centro da ponte, caminhei em direção ao centro de Cangas de Onís. Tal como já mencionei, maior do estava à espera. Penso ser a localidade de maior dimensão nas imediações dos Picos. À boa maneira espanhola, emana qualidade de vida entre o residentes. Muita gente na rua, comércio a funcionar, tudo muito limpinho, espaços verdes com fartura, lojas carregadas de queijos Cabrales (um ícone da região) e muitos malabaristas a tentar entornar sidra para um copo. Juro que a primeira vez que vi um senhor com uma garrafa de vidro acima do ombro, a entornar uma bebida amarela para dentro de um copo quase ao nível do chão, pensei que fosse um artista armado em homem do circo. Quando vi mais e mais um, e mais um, percebi, isto é mesmo assim. Já tinha ouvido falar na sidra das Astúrias, mas fazia ideia do momento épico do acto de colocar a bebida no copo. Outra coisa, como não se coloca mais de dois dedos de bebida no copo, o momento (épico) é repetido várias vezes.

Terminado o passeio por Cangas de Onís, era tempo de encontrar o local para dormir. Quer dizer já estava encontrado previamente. Neste dia tinha de dormir, obrigatoriamente, num Parque de Campismo. Há dois dias que não tomava banho, há dois que não tinha acesso à internet (não era o ponto mais importante) e ainda precisava de renovar as águas do meu “castelo andante”. O Camping Picos da Europa, a cerca de 15km de Cangas de Onís, era o único aberto na região. A maior parte apenas iniciava actividade do dia 1 de Abril e não exista outra hipótese. Depois de lá chegar, para além da única hipótese, pareceu-me logo uma boa hipótese. Todo relvado, boas casas de banho e uma vista muito bonita para alguns dos cumes dos Picos da Europa. Revolvi no momento ficar duas noites por ali e tornar este local na minha base para conhecer melhor a região. Assim, revolvi descansar o resto do dia pelo parque e guardar o próximo dia para a imersão nos Picos Asturianos, com os Lagos de Covadonga como cabeça de cartaz.

O banho soube tão bem. Abri a esplanada no Meu Escritório e aproveitei a vista. Mais uma vez, senti-me abençoado.


DIA 3: PICOS DA EUROPA

Entrava no quarto dia de viagem, com a paisagem dos Picos da Europa como pano de fundo. Viajava sem um plano definido, ia vivendo e escolhendo os pontos de paragem ao sabor do vento (sabor do vento, na linguagem da malta que viaja quer dizer: “gosto disto, fico por aqui!” 😉 ). Quer dizer, neste caso, o facto de (provavelmente) o único parque de campismo do norte de Espanha, que estava aberto nesta altura do campeonato, ficar no Picos, também pesou em muito na minha decisão em ficar mais um dia por aqui e dedicar um dia para uma absorção mais cuidada desta região e, consequentemente, menos progressão na estrada.

Nesta vida de caravanista, o dia começa com o nascer do Sol. Até podemos dar mais umas voltas na cama, mas existe um sentimento de “viver” muito grande (a luz entrar de imediato na caravana também ajuda 😉 ). Saí do “Meu Escritório” Indie Campers por volta das 8h00. Mais uma vez, os vizinhos caravanistas, que também pernoitaram no Camping Picos da Europa, já tinham partido sem eu dar por ela. Esta malta move-se em pantufas. Incrível. Muitos vejo-os a estacionar e nem chego a ver a cara das pessoas. Sinceramente esperava mais algum (ou algum!) tipo de interacção entre caravanistas. Sentia-me pertencente à mesma “religião”, ao mesmo grupo de “amigos”. Mas ninguém me ligava. Queria partilhar histórias de viagens, sobre o luar dos Picos ou ao som das ondas do mar. Mas nada. Acho que existe aqui um sentimento de proteção e auto-defesa muito grande. Talvez por más experiências do passado, por estarem muito expostos a armadilhas ou simplesmente porque estacionam à hora da novela e não querem perder um episódio. Este meio desabafo serve para dizer que ao quarto dia de viagem me sentia um pouco sozinho. Estava tudo a correr maravilhosamente bem, as paisagem eram lindas, a comida do melhor, gostava muito do meu “castelo andante”, mas não sei se consegui falar mais de 30 segundos com alguém. Sentia falta disso. As pessoas são as almas dos lugares e não conseguia chegar até elas. Era eu e a minha caravana, ponto.

Por volta das 9h00 arrumei a esplanada, desliguei a caravana da corrente (sim, tipo carregador de telemóvel) e parti em direção a Covadonga. Uma das portas de entrada nos Picos da Europa asturianos. Nota: isto pode tornar-se repetitivo. Lugar lindíssimo. Tudo! As estradas que caminham ao longo de um rio verde azulado, entre pequenos bosques ou longas planícies verdes, com casinhas de onde a qualquer momento esperava a saída de uma Heidi (sim, sou um saudosista), cavalos a cavalgar livremente e, quase de quilómetro a quilómetro, lá surgia um pico imponente coberto de neve. Só me perguntava: “mas que lugar é este”. Sentia um magia qualquer ali, que me prendeu de imediato aquele lugar. O mais incrível. Estava a sentir tudo isto que descrevi, mas, objetivamente, ainda nem sequer tinha entrado (oficialmente) nos Picos da Europa. O que aconteceu minutos depois com a chegada a Covadonga.

Já tinha ouvido muitas vezes falar de Covadonga, do Santuário e dos Lagos. Muito porque sou um amante de ciclismo e porque a mítica subida aos Lagos de Covadonga é um dos pontos fortes da Volta a Espanha. Mas apesar de já ter visto aquela subida e aquele local, inúmeras vezes na TV, parecia tudo novo para mim. Estava com imensa sorte. Estava um dia lindíssimo. Céu limpo e um Sol brilhante. Penso que não é coisa normal por aqui, ainda para mais em Março.

Fiz a primeira paragem no Santuário de Covadonga. Lugar místico e imponente. O Santuário Santa Cueva, embutido ou escavado no Monte Auseva é o ponte forte, se assim se pode chamar, deste lugar. Embora a Catedral também seja muito bonita e com um belo pano de fundo (sim, aquelas montanhas com neve). Voltando à Santa Cueva, também mítica, além do seu cenário muito particular (ou diferente), por, segundo a lenda, Don Pelayo, primeiro rei do antigo reino das Astúrias, se ter refugiado na gruta, onde hoje se encontra o Santuário, e aí ter reunido forças para derrotar os Muçulmanos na Batalha de Covadonga. Outra das lendas diz que Don Pelayo perseguia um bandido, e que encontrou um ermita, devoto de Virgem Maria, que pediu a Don Pelayo para perdoar o tal bandido. Pedido que Don Pelayo aceitou e que por tal acto, Virgem Maria, concedeu uma espécie de proteção especial a Don Pelayo nos restantes acontecimentos da sua vida, incluíndo a vitoriosa Batalha de Covandoga. Acompanhando a força das lendas, foi escavado um mini Santuário no Monte, com a figura de Virgem Maria, hoje conhecida como Virgem de Covadonga. Andei por ali um bom bocado da manhã. A sentir a energia do local. A sorte estava-me a acompanhar. Quando cheguei encontrei este lugar com muito pouca gente. A Catedral então, estava vazia. Assim que fui embora, em direção aos Lagos, eram autocarros, em fila indiana, a subir lentamente em direção ao Santuário. Com muita gente a energia perde-se um pouco 😉 .

Deixei o Santuário, e iniciei a subida em direção aos Lagos de Convadonga e ponto final da estrada. Ou seja, chegava aos Lagos e tinha de voltar para trás. Foram cerca de 10 quilómetros com vistas lindíssimas (eu disse que me ia tornar repetitivo, com esta história do “é tudo muito bonito”). Muitas curvas, paisagem que variava entre pequenos bosques e grandes planos. Passei por muitos ciclistas a tentarem vencer o desafio da subida. É claro que pensei: “tenho de voltar cá de bicicleta”. Pelo meio, cruzei-me com vacas gigantes, cabras e porcos (sim, porcos dos Picos da Europa, a caminhar nas calmas pelo meio da estrada). Surge o primeiro lago, o Enol. É impossível não abrir a boca perante tal cenário. Um relvado natural gigante, o lago e as montanhas com neve como pano de fundo. Contornei o primeiro lago e segui em direção ao segundo. O Ercina. Difícil a escolha do mais bonito, mas vou por este. Aqui estacionei o Meu Escritório por ali e por ali fiquei um bom par de horas. Incrível paisagem, lugar fabuloso. Caminhei por verde gigante que contorna o lago, aproximei-me do lago, sentei-me (tirei 1500 fotos) e por ali fiquei. Mais uma vez digo, uma sorte imensa pelo dia e por estar pouca gente. Tinha o lago quase só para mim. O silêncio misturado com tão imponente paisagem preencheu-me. Senti-me muito bem por ali. A mistura da leveza das águas calmas e límpidas do lago, com a imponência e dureza das montanhas, tudo cuidadosamente alinhado, tornam, realmente, este lugar num lugar muito especial. Estava sem pressa.

Já era meio da tarde quando resolvi ir embora. Se por lado, andava meio rabugento por não falar com ninguém, aqui, agradeci estar sozinho. Sou humano, essa raça difícil de agradar e de perceber. Voltei mais uma vez pela caminho lindíssimo, aquele das montanhas com neve, das planícies verdes, das casas fofinhas ou dos riachos com uma cor bonita. Voltei a estacionar o meu castelo andante no Camping Picos da Europa. Já tinha vizinhos novos. Voltei a não ver nenhum. Jantei na minha esplanada com luar dos Picos a iluminar a minha mesa. Silêncio quase absoluto.


DIA 4: PICOS DA EUROPA – SANTANDER

Acordava no Camping Picos da Europa. Era a minha quarta noite no meu castelo andante Indie Campers. Sentia um misto de saudosismo e cansaço. Por um lado, já me estava a habituar a esta vida itinerante de caravanista meio selvagem e à minha casa andante, mas por outro sentia-me um pouco sozinho, o que elevava pequenos problemas a coisas aborrecidas. Nunca tive problemas em fazer amigos em viagem, mas aqui estava difícil de acontecer. Começava a chegar à conclusão que esta coisa do caravanismo não funciona na perfeição em solitário. Pelo menos para mim. Estava a viver uma aventura fantástica, por lugares maravilhosos, mas precisava de falar com alguém sobre isso (não, as partilhas no meio digital não contam…nem os telefonemas para a família). Aquela lógica de “a felicidade só é verdadeira quando é partilhada”, aqui, faz sentido.

Sabia que iria terminar o dia em Santander. Sabia que não voltaria a ficar em um parque de campismo. Por isso, antes da partida do Camping, tive de fazer umas rotinas caravanistas. Despejar as águas sujas, colocar água limpa no depósito. E claro, tomar um banho, que amanhã não iria existir uma casa de banho com água quente à “porta de casa”.

Lá deixei o Camping, era meio da manhã. Iria seguir numa estrada paralela aos Picos da Europa e lá para o final dessa estrada, iria deixar as Astúrias e entrar na Cantábria. Foi sem grandes dúvidas, a mais bonita estrada por onde circulei nesta viagem (e olhem que passei por muito lugares bonitos!!). Verde, riachos, precipícios, montanhas, neve, aldeias muito bonitas…enfim, difícil não ficar extasiado. Perdi conta às vezes que parei. A dado momento deixei de tirar fotos. Apenas queira respirar (ou aproveitar) o momento. Almocei em Las Arenas. Tirando Cangas de Onís, foi a “aldeia” com maior movimento que encontrei nos Picos. Entre outras coisas interessantes, é dali que sai o funicular (uma espécie de metro da montanha) em direção à mítica aldeia de Bulnes, no coração dos Picos. Fiquei com uma pena de não ir lá, que nem imaginam. Mas o objetivo desta viagem era a estrada, por isso Bulnes vai ter que ficar para outra viagem. E espero chegar lá a pé e não de funicular. Deve ser um caminho lindo.

Continuei caminho e num ápice, deixei as Astúrias e entrei na Cantábria. Adorei as Astúrias. As aldeias piscatórias, o mar, as cidades, o verde, as aldeias, os Picos, tudo a variar em poucos quilómetros, deixou-me rendido. Sentia nesta altura, que seria difícil de igualar tal sentimento durante esta viagem. Apesar da proximidade e dos Picos se manterem como pano de fundo, a paisagem cantabrica é completamente diferente da asturiana. Mas com uma coisa em comum, a mudança e contrastes gigantes em poucos quilómetros. Ainda mal tinha deixado a neve e a montanha, e já estava ao pé o mar.

Parei pela primeira vez em Comillas. Bonita vila, com um centro histórico interessante (pelo menos foi o que me pareceu na vista rápida que lhe lancei) e uma praia que parece ser agitada nos meses de Verão. A julgar pelas estruturas de apoio, hotéis ou casas de férias. A malta deve parar por aqui no Verão. Parei mesmo em frente à praia “urbana”. Apesar do dia meio cinzento, típico de inicio de Primavera, já se via alguém mais corajoso, ou com uma saudade desmedida do Verão, a arriscar no “tronco nu” na praia. Ainda fiquei por ali um tempo, sentado na entrada do meu escritório, a ouvir o som das ondas do mar. Já sabia, que seriam estes momentos que mais iria recordar e, consequentemente, mais falta iria sentir. A facilidade de colocar a “casa” no local mais bonito é, quase, inacreditável. Há 1 hora tinha a janela de “casa” com vista para montanha. 1 hora depois, tinha a janela com vista para um imenso mar. A “casa” era mesma.

Deixei Comillas e o cheiro o mar (quer dizer, esse não foi embora completamente). A próxima paragem seria poucos quilómetros à frente. Quanto no facebook as pessoas que já conheciam esta zona viram por onde andava, soltaram uma palavra em uníssono: “SANTILLANA!”. Do género, “livra-te de passares aí perto e não parares em Santillana del Mar”. Juro que nunca tinha ouvido falar nesta bonita povoação. Nas primeiras pesquisas no amigo Google, as referencias eram quase sempre as mesmas, um dos pueblos mais bonitos de Espanha. Pois bem, é claro que parei. E, realmente, é um pueblo mus hermoso (nesta altura do campeonato já tratava o castelhano por tu 😉 ). Super, mas mesmo super, arranjadinha, sem um pinga de sujidade. Entre o mar e as montanhas (onde os picos com neve se vêm perfeitamente da aldeia), um conjunto de casas ao melhor estilo medieval. Confesso que a primeira vez que ouvi ou li Santillana del Mar, a minha cabeça ligou a qualquer coisa tipo Benidorm do Norte de Espanha, talvez pelo “del Mar” (nome muito ao estilo das discotecas de Verão dos anos 90). Mas não, saí-me uma aldeia ao melhor estilo de filme de reis e rainhas, e quase me senti mal por andar por ali de caravana. Ali, era de cavalo que me iria sentir em casa. 😉 Muito interessante.

Não podia “perder” mais tempo em Santillana e tinha de seguir para Santander. Já era quase final de tarde e ainda tinha de encontrar um local para estacionar o meu castelo andante para mais uma dormida. Deveriam ser 18h00 quando cheguei a Santander. Provavelmente a maior cidade por onde tinha encontrado até ali, nesta viagem. Cidade moderna. Onde me pareceu que existe qualidade de vida e com uma ligação ao mar bem visível. Para estacionar, o que previa em espaços urbanos. Uma complicação. Quase sempre com sinais a proibir o estacionamento para veículos como o meu. Ou melhor, podia estacionar, não podia era dormir. Como a minha caravana na verdade era carrinha, caso a proibição fosse a caravanas, podia sempre dizer “meus amigos policias espanhóis, isto é uma carrinha”. Mas a proibição delas era pelo peso do veículo, logo, estava lixado (falando depressa). Espertos estes sacanas da lei.

Já farto de andar para trás e para a frente. Estacionei no parque de estacionamento do mítico estádio El Sardinero, do Racing Santander. O parque, apesar de também ter a tal proibição do peso, estava quase vazio e era enorme. Por lá estava um companheiro caravanista pronto para passar a noite, nem pensei mais, “vai ser aqui!”. Ainda deu para uma pequena voltinha a pé pelas redondezas. O estádio fica a cerca de 200m da praia, El Sardinero, e é uma baía/praia de cidade muito bonita. Muita gente a correr na avenida, algumas já a banhos. Senti-me bem por ali. O tempo era curto, mas esta Santander pareceu-me muito interessante, mais do que visitar, para viver.

Com o anoitecer voltei para o meu chalé. Não sei se pelo medo que chegasse o reboque da policia lá do sítio e me levasse a “casa”, por estar “ilegal” ou pelo muito vento que fez nessa noite (acho que foi mais por aqui…quase que o castelo levantou voo), foi a noite em que dormi prior.

No dia seguinte iria entregar a minha casa itinerante em Bilbao. (sim, já estava com o sentimento “nostalgia” a apoderar-se de mim)


DIA 5 e 6: BILBAO E SAN SEBASTIAN

Partia em direção a Bilbao. Partia em direção ao final da viagem. Em todas as viagens, com elementos desconhecidos até então, apesar de um comum sentimento de adrenalina pela partida, existe sempre uma certa dose de apreensão (pelo menos comigo é assim). No inicio desta viagem, simulei, várias vezes, diversos possíveis acontecimentos numa viagem de auto-caravana. Normalmente acontecimentos maus. Tipo assaltarem a caravana, multas, canalização (sim, aquilo tem casa de banho), congelar lá dentro, etc. Apesar de não ir, propriamente, viajar para um destino desconhecido, mas não estava no meu país, ia sozinho e desconhecia a linguagem caravanês. Como também normalmente acontece, passados 15 minutos de viagem, essas questões acabaram. E como também é comum, em mim, em todas as viagens, a nostalgia do final da viagem deixa-me num misto de felicidade, por voltar a casa com histórias para contar, e de nostalgia meio lamechas a tomar conta de mim. Era assim que me sentia, a conduzir a minha casa (notam o grau de afetividade, estava a conduzir a minha casa!!!), por uma estrada secundária, em direção a Bilbao. Confesso que nem me lembro bem da estrada. Passei a viagem, de sensivelmente 1h, a recordar os dias anteriores.

Chegava a Bilbao, pela zona industrial da cidade, que é enorme. Bilbao é uma das cidades mais industrializadas de Espanha, é cidade imponente e de forte caracter. Senti isso, em 5 minutos e sem sair da estrada. Apesar dos tons fortes e quase monocromática, não é uma cidade fria e intocável, quase como se conseguisse ver um coração bom, atrás de toda esta cortina de ferro. A Indie Campers tem o seu escritório/garagem numa zona industrial nos arredores da cidade (ter 20 caravanas no centro da cidade, deve ser tarefa impossível). A lógica (de localização) é sempre essa. Perto da cidade e perto do aeroporto. Lá deixei a minha casa na casa dela. Foi tudo tão rápido que nem deu para me despedir convenientemente 😉 . Como também é comum na Indie Campers, não fiquei na zona industrial a pé e com uma mochila gigante às costas. Ofereceram-me, gentilmente, boleia até ao centro da cidade. Fiquei perto do Museu do Guggenheim. Iria ficar a dormir num hotel, ali perto (ali perto é quase um eufemismo…ficava mesmo em frente). Iria trocar uma auto-caravana, por um hotel de 5 estrelas, com vista para um dos edifícios mais famosos do Mundo. A minha vida é assim, feita de contrastes. É, também por isso, que gosto tanto dela. Assim entrava eu no Grand Hotel Domine Bilbao. De mochila às costas, despenteado, sem tomar banho à quase dois dias, mas cheio de histórias para contar, feliz da vida e, sempre, de sorriso sincero.

É claro que a primeira coisa que fiz, no meu quarto impecável, foi tomar um banho e vestir uma roupa lavada, que guardei, religiosamente, para utilizar neste dia. Tipo roupa de Domingo para ir à missa. Estava como novo. Mas com uma certa saudade da minha casinha ambulante. A vista para o Guggenheim é interessante, mas acordar num dia com vista para os Picos da Europa e no outro com vista para o mar, não tem preço.

A minha estadia em Bilbao iria ser curta. Nem 24h seriam. Não me perdi pelo Guggenheim, optei por uma visita ao centro histórico de Bilbao. Em boa hora o fiz. Tão bem que me senti por lá. A cidade é super organizada, limpa, as pessoas parecem andar todas felizes e adorarem viver ali. É bom sentir isso, passa uma boa imagem. Seguindo os bons costumes espanhóis, o final da tarde é igual a “toda a gente na rua”. Toda a gente a na rua. Engravatados misturados com rockalheiros, crianças, famílias, todos, mas todos com ar felicidade, daqueles que mostram que não desejavam estar em outro lugar. Foi, provavelmente, o que mais me impressionou por aqui. Quer dizer, os pintxos também me tocaram no coração. Gosto muito de comer, beber, conversar ao balcão de uma qualquer tasca por esse Mundo fora. Mas quando a comida é feita para o balcão, com o tamanho certo, virada para a partilha e para a democracia (cada um come o que quer), e ainda tem uma qualidade e aspecto a roçar o perfeito para esta ocasião, apetece-me abrir os braços em direção ao céu e dizer, simplesmente: “obrigado.”. Adoro pintxos! Gosto muito de tremoços, mas o pintxos são de outro campeonato. Na minha estadia num dos bares de pintxos só fiquei triste com uma coisa. Estava a dar o máximo no meu castelhano, cañas para um lado, bien para outro, gracias pelo meio. Pensei: “esta malta pensa que sou daqui, mas eu sou do Rossio lá de Portugal”. Nem tinha acabado a 3a frase, já me estavam a dizer que seu eu quisesse tinha o nome dos pintxos também escrito em inglês. ☹️  Bateu-me no coração. (tenho de ver mais uns episódios do Verão Azul sem legendas). Regressei ao Hotel. 

Na manhã seguinte, levantei bem cedo, tinha um autocarro para apanhar, rumo a San Sebastian. O dia estava chuvoso, mas ainda assim, arrisquei a atravessar meia cidade, a pé. Tenho um tendência natural para ver o lado positivo das coisas. Sim, levei com uns pingos na cabeça. Mas soube-me tão bem ter a cidade quase só para mim. 

A viagem até San Sebastian durou cerca de 1h, e é uma das formas de partir (e chegar) de Bilbao em direção a Portugal. De Bilbao, existem voos diretos para Lisboa. De San Sebastian, parte o comboio noturno internacional, também em direção a Lisboa. Optei pela segunda hipótese. Tenho um fascínio por viagens de comboio. Cheguei a San Sebastian a meio da manhã e chovia quase torrencialmente. Mesmo debaixo de varandas e entre entradas e saídas de bares, deu sentir que é um lugar especial. Em comparação com a vizinha Bilbao, é mais pequena, mas igualmente com carácter forte. Mesmo com chuva, deveriam estar, ao final da manhã (era Sábado), cerca de 3 pessoas em casa. Impressionante. Tudo na rua. Muitos de copo na mão, quase todos a sorrir. Uma vibração incrível. Ruas alinhadas, quase todas a desaguar na baía da praia da cidade (La Concha). A chuva e o tempo curto não deu para muito. Apenas para uma vontade enorme de voltar, com mais tempo. Uma cidade bonita, com pessoas, bonitas, cheia de histórias, com uma cultura gastronómica de renome internacional (é a cidade com mais estrelas michelin por m2 do Mundo), tem tudo para figurar num dos lugares favoritos de todo o sempre.

A meio da tarde caminhei para estação e pouco depois embarquei no comboio rumo a Lisboa. Estava preparado para ver um filme e pensar na vida. Enganei-me. No meu compartimento estava um inglês, que ia para Portugal para explorar o Gêres, e um alemão, que falava português do Brasil, que vinha ao encontro da namorada que conquistou no Brasil, nos tempos que viveu por lá. A viagem durava quase 10h. Ao final da 1h já estávamos a ir buscar rodadas de Super Bock ao bar do comboio e partilhar longas histórias de guerra (de viagens). Muito bom momento para terminar em grande esta viagem. 



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