bem-vindos a soure!

 

Ainda era noite quando tocou o despertador. Aprumo-me rapidamente. A bagagem já estava pronta desde o dia anterior. Beijinho na Alice e na Liliana, era tempo de partir para nova viagem. Seria uma daquelas curtas (em tempo e distância), mas que apresenta a mesma adrenalina das mais longas (em tempo e distância). Estava a caminho de Soure. Sim, Soure. Um destino que foge dos mapas turísticos, tornando a informação (turística) sobre si quase nula. Como eu rejubilo com destinos improváveis, imperfeitos e fora de contexto, estava mais entusiasmado em partir para uma espécie de conquista de Soure, esse território desconhecido, do que caminhar para o avião em vésperas de partir para Paris. Entro no carro, chave na ignição, óculos de sol, vidro aberto e cabelo ao vento. Perfeito. 

Confesso que nunca tinha ido a Soure. Sabia que Soure existia e conseguia identificar, mais ou menos, a sua localização. Poucas imagens tinha visto, poucos textos tinha lido. Soure apresentava-se para mim como um verdadeiro mistério. Hoje em dia é comum e eficaz o slogan de “segredo”. Mesmo para aqueles lugares que toda a gente conhece. Mas resulta. Talvez por vivermos numa era de excesso de informação, tudo aquilo que é muito conhecido torna-se apetecível (nem que seja para irmos onde a nossa vizinha já foi), mas por outro lado, tudo aquilo que foge dos olhares dos gigantes da informação, consegue o estatuto de único, ou de verdadeiro segredo, com elevados traços de genuinidade. Não sei se em consciência, levado pelas minhas experiência anteriores, ou se em inconsciência, levado pelo meu lado sonhador, a imagem que eu tinha criado para o mistério Soure era mesmo essa, um lugar genuíno, onde o tempo passa sem pressa de querer ser outra coisa.

Soure, a vila e centro histórico, estão localizados num vale da Serra Sicó. Também ela emblemática e misteriosa, com tanto por descobrir. Outro dos pontos que achei curioso em relação à localização de Soure, e que me chamou logo a atenção assim que vi o seu nome no mapa, foi a visualização de um triângulo imaginário, onde Soure seria o vértice mais a Sul, Coimbra o vértice a Este e Figueira da Foz o vértice Oeste. Tudo isto quer dizer que Soure, com altitude quase ao nível do mar, fica embrenhado no meio da Serra de Sicó, onde a natureza é rainha, e ao mesmo tempo fica a 30km da cosmopolita Coimbra e a 30km do mar da Figueira da Foz. Seguindo a linha de pensamento anterior, o estatuto de “única” já não lhe foge.

O nascer do sol já tinha passado e com um dia limpo entrei na Serra Sicó. O verde carregado da vegetação mistura-se com o esbranquiçado da pedra dos pequenos muros que formam múltiplos quintais ao longo da paisagem. Diria mesmo que esta mistura é elemento constante por aqui. Já estava dentro do território de Soure. Ia ultrapassando aldeia atrás de aldeia, com azimute alinhado no centro da vila. Num ápice, o céu limpo da serra deu lugar a uma neblina particular e invulgar para um normal dia, quente, de final de Verão. Sim, era mesmo isso. Estava a chegar a Soure. Baixei a altitude e uma neblina envolvia todo o núcleo urbano de Soure, com diversos cumes de serra a surgirem acima da neblina, tornando fácil a percepção do vale onde está “instalada” a vila. Em plena descida, tive que sorrir em jeito de confirmação do mistério que a minha imaginação criou sobre Soure. Existe melhor forma de chegar a um destino que imaginamos como misterioso? Sim, neblina parece-me a palavra certa.

Quando cheguei o dia já tinha começado em Soure. As pessoas circulavam pelas ruas com os cestos de compras, o carteiro fazia o seu trabalho e o café central tinha a sua esplanada cheia. Comecei a explorar Soure e as suas ruelas, como melhor sei fazer. A pé, observando invisível os movimentos das suas pessoas. Nas normais rotinas diárias se percebe o coração de um lugar. Começo pelo bonito Parque dos Bacelos, junto ao rio, onde dezenas de crianças corriam como se não existisse amanhã. É claro que pensei na minha Alice e em como daqui a uns anos também será feliz por ali. Coisas simples e boas da vida. Atravesso o parque e rapidamente chego ao ponto estratégico de Soure, uma espécie de ponto número 1 de qualquer viagem que se faça por aqui. O Castelo. Do antigo castelo, que já pertenceu à Ordem Templários, resta pouco mais que uma muralha e duas torres, mas ainda assim, suficiente para prender o meu olhar. A primeira coisa que me faz viajar no tempo, é o facto de o castelo não estar num ponto alto. Na verdade está praticamente ao nível do mar. Acredito que pertencesse à linha de defesa de Coimbra, talvez a proximidade com o rio fizesse dele uma espécie de entreposto comercial fortificado. Ou talvez a construção do castelo esteja ligada a uma história de amor (gosto de manter todas as hipóteses em aberto). Muitas interrogações, como eu gosto. Faz-me sonhar. Hoje o castelo funde-se com a vila e as suas muralhas fazem paredes meias com outras habitações. Continuei a minha viagem. Imaginem agora o topo de uma montanha russa, o local mais alto, onde começa (de uma forma desenfreada) toda a viagem? Conseguem? Foi isso que aconteceu, após a visita ao castelo fui aglutinado pela ruas, ruelas e becos de Soure. Rapidamente percebi que as minhas expectativas sobre Soure estavam certas. É um lugar genuíno, onde o tempo não tem pressa de passar. É uma vila com a delicadeza de uma aldeia. Acredito que todos se conheçam por aqui. Não existem grandes superfícies e o comércio local é a alma do lugar. Lojas e mais lojas, pequenas e com movimento. Não são as lojas do grupo x ou y, é a loja da Dona Maria ou do Senhor Manuel. Não é delicioso? Diria que raro (para um centro de vila). Passei pelo largo da igreja, pelo jardim em frente ao bonito edifício da Câmara Municipal, visitei o Mercado Diário (sim, ao estilo tradicional) e sentei-me na praça central, junto à Caixa Geral de Depósitos, numa das muitas esplanadas que por ali existem e, simplesmente, deixei o tempo passar. Pedi uma água e fiquei. Entretanto a neblina já tinha passado e Soure tinha ganho uma nova cor. 

Volto a percorrer muitas das ruas que já tinha percorrido. Caminho novamente para o carro, para percorrer novos caminhos deste território. Antes da despedida do centro da vila, vejo os holofotes daquilo que me parecia ser um estádio. Conduzo até lá, seguindo o caminho do rio. A porta do estádio estava aberta e entrei. Certamente em preparativos para o jogo do próximo fim de semana, um bonito relvado estava a ser regado. Cruzo-me com um senhor, talvez o responsável pelo campo, que rapidamente me diz um “sinta-se à vontade”. Enquanto fotografava o estádio (sou um fascinado por estádios old school), o senhor diz-me que deveria voltar em dia de jogo. A minha resposta foi fácil: “claro que sim, vou voltar em breve”.

Esta é a primeira história, de um conjunto de histórias que irão ser criadas sobre o bonito território de Soure.

 

Ainda era noite quando tocou o despertador. Aprumo-me rapidamente. A bagagem já estava pronta desde o dia anterior. Beijinho na Alice e na Liliana, era tempo de partir para nova viagem. Seria uma daquelas curtas (em tempo e distância), mas que apresenta a mesma adrenalina das mais longas (em tempo e distância). Estava a caminho de Soure. Sim, Soure. Um destino que foge dos mapas turísticos, tornando a informação (turística) sobre si quase nula. Como eu rejubilo com destinos improváveis, imperfeitos e fora de contexto, estava mais entusiasmado em partir para uma espécie de conquista de Soure, esse território desconhecido, do que caminhar para o avião em vésperas de partir para Paris. Entro no carro, chave na ignição, óculos de sol, vidro aberto e cabelo ao vento. Perfeito. 

Confesso que nunca tinha ido a Soure. Sabia que Soure existia e conseguia identificar, mais ou menos, a sua localização. Poucas imagens tinha visto, poucos textos tinha lido. Soure apresentava-se para mim como um verdadeiro mistério. Hoje em dia é comum e eficaz o slogan de “segredo”. Mesmo para aqueles lugares que toda a gente conhece. Mas resulta. Talvez por vivermos numa era de excesso de informação, tudo aquilo que é muito conhecido torna-se apetecível (nem que seja para irmos onde a nossa vizinha já foi), mas por outro lado, tudo aquilo que foge dos olhares dos gigantes da informação, consegue o estatuto de único, ou de verdadeiro segredo, com elevados traços de genuinidade. Não sei se em consciência, levado pelas minhas experiência anteriores, ou se em inconsciência, levado pelo meu lado sonhador, a imagem que eu tinha criado para o mistério Soure era mesmo essa, um lugar genuíno, onde o tempo passa sem pressa de querer ser outra coisa.

Soure, a vila e centro histórico, estão localizados num vale da Serra Sicó. Também ela emblemática e misteriosa, com tanto por descobrir. Outro dos pontos que achei curioso em relação à localização de Soure, e que me chamou logo a atenção assim que vi o seu nome no mapa, foi a visualização de um triângulo imaginário, onde Soure seria o vértice mais a Sul, Coimbra o vértice a Este e Figueira da Foz o vértice Oeste. Tudo isto quer dizer que Soure, com altitude quase ao nível do mar, fica embrenhado no meio da Serra de Sicó, onde a natureza é rainha, e ao mesmo tempo fica a 30km da cosmopolita Coimbra e a 30km do mar da Figueira da Foz. Seguindo a linha de pensamento anterior, o estatuto de “única” já não lhe foge.

O nascer do sol já tinha passado e com um dia limpo entrei na Serra Sicó. O verde carregado da vegetação mistura-se com o esbranquiçado da pedra dos pequenos muros que formam múltiplos quintais ao longo da paisagem. Diria mesmo que esta mistura é elemento constante por aqui. Já estava dentro do território de Soure. Ia ultrapassando aldeia atrás de aldeia, com azimute alinhado no centro da vila. Num ápice, o céu limpo da serra deu lugar a uma neblina particular e invulgar para um normal dia, quente, de final de Verão. Sim, era mesmo isso. Estava a chegar a Soure. Baixei a altitude e uma neblina envolvia todo o núcleo urbano de Soure, com diversos cumes de serra a surgirem acima da neblina, tornando fácil a percepção do vale onde está “instalada” a vila. Em plena descida, tive que sorrir em jeito de confirmação do mistério que a minha imaginação criou sobre Soure. Existe melhor forma de chegar a um destino que imaginamos como misterioso? Sim, neblina parece-me a palavra certa.

Quando cheguei o dia já tinha começado em Soure. As pessoas circulavam pelas ruas com os cestos de compras, o carteiro fazia o seu trabalho e o café central tinha a sua esplanada cheia. Comecei a explorar Soure e as suas ruelas, como melhor sei fazer. A pé, observando invisível os movimentos das suas pessoas. Nas normais rotinas diárias se percebe o coração de um lugar. Começo pelo bonito Parque dos Bacelos, junto ao rio, onde dezenas de crianças corriam como se não existisse amanhã. É claro que pensei na minha Alice e em como daqui a uns anos também será feliz por ali. Coisas simples e boas da vida. Atravesso o parque e rapidamente chego ao ponto estratégico de Soure, uma espécie de ponto número 1 de qualquer viagem que se faça por aqui. O Castelo. Do antigo castelo, que já pertenceu à Ordem Templários, resta pouco mais que uma muralha e duas torres, mas ainda assim, suficiente para prender o meu olhar. A primeira coisa que me faz viajar no tempo, é o facto de o castelo não estar num ponto alto. Na verdade está praticamente ao nível do mar. Acredito que pertencesse à linha de defesa de Coimbra, talvez a proximidade com o rio fizesse dele uma espécie de entreposto comercial fortificado. Ou talvez a construção do castelo esteja ligada a uma história de amor (gosto de manter todas as hipóteses em aberto). Muitas interrogações, como eu gosto. Faz-me sonhar. Hoje o castelo funde-se com a vila e as suas muralhas fazem paredes meias com outras habitações. Continuei a minha viagem. Imaginem agora o topo de uma montanha russa, o local mais alto, onde começa (de uma forma desenfreada) toda a viagem? Conseguem? Foi isso que aconteceu, após a visita ao castelo fui aglutinado pela ruas, ruelas e becos de Soure. Rapidamente percebi que as minhas expectativas sobre Soure estavam certas. É um lugar genuíno, onde o tempo não tem pressa de passar. É uma vila com a delicadeza de uma aldeia. Acredito que todos se conheçam por aqui. Não existem grandes superfícies e o comércio local é a alma do lugar. Lojas e mais lojas, pequenas e com movimento. Não são as lojas do grupo x ou y, é a loja da Dona Maria ou do Senhor Manuel. Não é delicioso? Diria que raro (para um centro de vila). Passei pelo largo da igreja, pelo jardim em frente ao bonito edifício da Câmara Municipal, visitei o Mercado Diário (sim, ao estilo tradicional) e sentei-me na praça central, junto à Caixa Geral de Depósitos, numa das muitas esplanadas que por ali existem e, simplesmente, deixei o tempo passar. Pedi uma água e fiquei. Entretanto a neblina já tinha passado e Soure tinha ganho uma nova cor. 

Volto a percorrer muitas das ruas que já tinha percorrido. Caminho novamente para o carro, para percorrer novos caminhos deste território. Antes da despedida do centro da vila, vejo os holofotes daquilo que me parecia ser um estádio. Conduzo até lá, seguindo o caminho do rio. A porta do estádio estava aberta e entrei. Certamente em preparativos para o jogo do próximo fim de semana, um bonito relvado estava a ser regado. Cruzo-me com um senhor, talvez o responsável pelo campo, que rapidamente me diz um “sinta-se à vontade”. Enquanto fotografava o estádio (sou um fascinado por estádios old school), o senhor diz-me que deveria voltar em dia de jogo. A minha resposta foi fácil: “claro que sim, vou voltar em breve”.

Esta é a primeira história, de um conjunto de histórias que irão ser criadas sobre o bonito território de Soure.

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