road trip centro de portugal: serra da estrela

Entre vales e montanhas pintados em tons de verde, surge a Serra da Estrela, a cadeia montanhosa, com as maiores altitudes de Portugal Continental. Inserida no Parque Natural da Serra da Estrela, com mais de 300km de trilhos por explorar, mais do que um lugar, este é um plano composto por cenários diversos, mas acima de tudo, idílicos. De uma orografia singular, este é um território de uma riqueza não só natural, como cultural, humana, histórica e também gastronómica. Além de tudo isto, é ainda o ventre onde nascem três rios, o rio Zêzere, o rio Mondego e o Rio Alva, e onde podemos ainda encontrar, 25 lagoas. É aqui que o silêncio das montanhas se encerra, e que a beleza das cidades serranas se engrandece. 

Pela mão do Turismo do Centro, partimos nesta viagem e iniciamos as atividades, na cidade de Trancoso, uma das nove aldeias históricas da Serra da Estrela. A visita ao centro histórico obriga a uma passagem pelo Castelo milenar, o qual oferece uma vista panorâmica sobre todo o núcleo amuralhado. Enquanto terra de fronteira, Trancoso foi local de várias batalhas e é hoje, um repositório de importante património arquitetónico civil e religioso. A chegada da hora de almoço, levou-nos até à aldeia de Marialva, também aldeia histórica, composta por três núcleos distintos: a Cidadela, o Arrabalde e a Devesa, um lugar de imediata viagem ao passado, enquanto monumento vivo da ancestralidade portuguesa. Já o período da tarde, trouxe uma experiência termal na estância de Longroiva, cujas águas são reconhecidas desde tempos pré-históricos. Com o cair do dia seguimos até Cidadelhe, uma antiga freguesia do concelho de Pinhel, e uma das etapas da Grande Rota do Vale do Côa. Esta rota acompanha por 200km, o percurso do Rio Côa, desde a nascente até à foz e pode ser percorrida a pé, de bicicleta ou a cavalo. Ao longo da rota, podemos encontrar centenas de painéis de arte deixados pelas comunidades nómadas, e ao mesmo tempo, desfrutar de uma experiência imersiva de contacto com a natureza, no seu estado mais puro. 

No dia seguinte, atravessamos o Côa em direção a Figueira de Castelo Rodrigo. Mais uma aldeia histórica, onde a presença de uma importante comunidade de cristãos-novos, é bastante visível pelos vestígios que ali observamos. Entre os vários monumentos que reclamam esse valioso património histórico, podemos destacar a igreja matriz, o pelourinho quinhentista, as ruínas do Palácio de Cristovão de Moura e a cisterna medieval. Este percurso de recreação histórica seiscentista, culminou com um pic-nic num cenário mágico, criado pelo espetáculo natural que são as amendoeiras em flor. Chegado o período da tarde, prosseguimos a nossa viagem, desta vez, até à vila fortificada de Almeida. No Picadeiro D’el Rey, construído originalmente com a função de Trem de Artilharia, do século XVII, desfrutámos de um agradável passeio de charrete. 

De Almeida rumámos até Vilar Formoso. O Museu “Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”, é uma homenagem não só aos refugiados que por ali passaram durante a Segunda Guerra Mundial, como também à humanidade que esta vila raiana demonstrou perante eles. Alojado na estação ferroviária, este museu é um repositório de memórias que necessitam ser não só preservadas, como partilhadas, para que o seu esquecimento se torne uma impossibilidade e por todos estes motivos, este é um ponto de paragem obrigatório. De volta à estrada, seguimos até à Guarda. Esta cidade é novamente um encontro imediato com o passado, e com um património histórico bastante rico, desde a Sé à Praça Luís de Camões, desde o Antigo Paço Episcopal a qualquer uma das suas interessantes ruelas. 

Com a aproximação do final dia, seguimos para a freguesia de Meios. A funcionar numa antiga fábrica de tecelagem, fomos encontrar o Museu de Tecelagem dos Meios. Nesta visita descobrimos os famosos cobertores de papa, um produto tradicional deste distrito, obtido a partir da lã churra de ovelha. Após esta experiência, partimos para o último momento do dia. Em plena Cova da Beira, no sopé da Serra da Estrela, fomos conhecer a aldeia histórica de Belmonte. Terra natal de Pedro Álvares Cabral, Belmonte foi casa para uma importante comunidade judaica, e esse ambiente medieval é ainda bastante notório. Aqui pudemos visitar a Pousada do Convento de Belmonte, antigo Convento da Nossa Senhora da Esperança, hoje a funcionar enquanto hotel, onde ficámos a recarregar baterias para o dia seguinte. 

Este terceiro dia de viagem, começou então com uma exploração pelo centro histórico de Belmonte, com a passagem pelo Museu Judaico e pelo Museu dos Descobrimentos. Assumindo a importância da comunidade judaica que ali permaneceu durante séculos, é possível descobrir no Museu Judaico, peças desde a Idade Média ao século XX. O Museu dos Descobrimentos, surge não só como homenagem a um dos mais ilustres filhos da terra, Pedro Álvares Cabral, mas também, como reservatório de memória, de um dos períodos de maiores conquistas, da história de Portugal. Saídos de Belmonte, partimos rumo a Manteigas, onde fomos conhecer a Burel Factory. Este projeto nasceu em 2010, numa antiga sala da fábrica Lanifícios Império. O burel é um tecido artesanal de origem serrana, feito totalmente em lã. Aqui são criadas e produzidas peças de vestuário e decoração, acessórios, brinquedos e ainda, projectos de revestimentos de espaços interiores, funcionando o burel como um excelente isolamento acústico. 

De Manteigas seguimos na nossa viagem até Gouveia, onde visitámos a Queijaria Madre de Água, altamente especializada na arte de produzir queijo, aliando em perfeito equilíbrio, tradição e tecnologia. Com a manhã a chegar ao fim, partimos para Seia, para um almoço no famoso Museu do Pão, que funciona não só com essa função museológica, mas também enquanto restaurante. Com o estômago já restabelecido, partimos para um dos destinos finais desta viagem, o Geopark Estrela. Com uma área de 2216 km2, que inclui parte ou a totalidade dos nove municípios que envolvem a Serra da Estrela. Um lugar de paisagem diversificada, onde pudemos conhecer vários pontos, como a Torre, o Miradouro do Vale Glaciário do Zêzere, ou o Covão D’ametade. Findo este momento, seguimos para a Covilhã, e para o último ponto desta jornada, a New Hand Lab – fábrica António Estrela – onde fomos recebidos pelo Miguel Gigante. Este espaço surge com o objetivo de promover a inovação, o empreendedorismo e a criatividade, mas também de divulgar os recursos endógenos deste território. 

Esta exploração tornou evidente a magia que existe nos territórios da Serra da Estrela, e que será certamente inegável, para todos os que a decidem conhecer. Para além da evidente diversidade natural e da riqueza do património histórico que abrange, este lugar de montanha, é também um lugar de identidades vincadas e palco de tradições muito distintas, que resultam numa unicidade que faz dele tão singular. Associá-lo apenas a um destino de neve, é remetê-lo a uma superficialidade que em nada o caracteriza, embora seja compreensível essa ressonância simbólica, associada à beleza dos mantos brancos nos cumes das montanhas. Este templo da natureza, é hoje um lugar de experiências, de aventura, de encontro entre um passado valioso e um futuro promissor, dinâmico e carregado de possibilidades, e por todas essas razões, um destino óbvio não só de ida, mas também de constante regresso. 

 

Março 2020

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