episódio 2: Puerto de vega – picos da europa

O dia nasceu bonito em Puerto de Vega. Quando coloquei a cabeça fora da carrinha, já os meus vizinhos suecos tinham partido. As nossas carrinhas eram as únicas no gigante parque de auto-caravanas desta simpática aldeia piscatória. Tomei o pequeno almoço, no interior da carrinha, com a porta lateral aberta. Tinha vista deslumbrante, a partir do Meu Escritório, para o enorme Oceano Atlântico. Senti-me, naquele momento, um privilegiado pela vida que tenho. Sinto isso várias vezes. Mas naquele momento, tive de sorrir, por tão abençoado que me estava a sentir. E por algo tão simples. Comer uma banana e uma sandes, dentro de uma Fiat Ducato transformada em “mini-casa”. Acho que parte do meu trabalho é mesmo isso, dar palavras a momentos simples e transformá-los em momentos grandiosos, valorizando-os. Acabei a minha banana e segui caminho, eram 9h00.

Segui em direção a Cudillero. Outra aldeia piscatória, esta mais turística (seja lá o que isso for). Por sugestão de um amigo, que quando soube da minha viagem pelo norte de Espanha, me falou de Cudillero como um protótipo astúriano das Cinque Terre (cinco aldeias italianas junto ao mar, na região da Ligúria, muito bonitas). Cudillero fica a cerca de 40km de Puerto Vega, a viagem foi rápida, o pior veio depois. Impossível estacionar na aldeia (pelo menos para uma auto-caravana). Não era permitida a entrada de veículos grandes no centro de aldeia (perfeitamente aceitável) e a única rua que restava (na aldeia) estava lotada (como seria de esperar). Tive de deixar o meu “castelo andante” fora da aldeia e caminhar até ao centro. Uma descida aos ziguezagues, por uma estrada estreita e entre casas de 2 ou 3 andares, muito cuidadas e de cores garridas (e variadas, umas vermelhas, outras azuis, outras verdes…uma salada de fruta engraçada). Este caminhar apertado desaguou na praça central, junto mar e junto ao porto. Esta praça era cuidadosamente contornada por várias camadas de pequenos prédios, encavalitados em cima uns dos outros. Mais uma vez, com cores variadas, transformando a praça numa espécie de pequeno estádio, com uma abertura para o mar. Como cheguei cedo e fora da época alta, tinha a praça quase só para mim. Os muitos restaurantes que existem por ali (metade da praça são esplanadas) preparavam o almoço, ainda fechados, e lá fui dando uma olhadela pelos menus. Como seria de esperar, quase em exclusivo, peixe e marisco. Senti pena de não ficar para o almoço. O pouco que vi, tinha um tremendo bom aspecto (e já dava para sentir o cheiro do lume a fustigar o carvão). Uma espécie de sai do mar e vai para a mesa. Lá voltei para minha carrinha, desta vez num ziguezague ao contrário e a subir forte e feito. Foram cerca de 2km assim. Com este esforço, cheguei à carrinha pronto para almoçar (ironia, certo). Muito encantador este Cudillero

Estava a começar a ficar encantado com as Astúrias, que sempre associei aos Picos da Europa, montanhas e neve. Mas que me estava a presentear com pequenas pérolas à beira-mar. Depois de Cudillero conduzi o Meu Escritório em direção a Oviedo e ao interior das Astúrias. Seguia em direção aos Picos da Europa. Se estava a ficar encantado com as Astúrias, depressa fiquei completamente rendido. Nem 20km tinha feito em direção ao interior, deixando para trás pequenas aldeias (de filme) junto a um mar imenso, e dei por mim num cenário típico de um Música no Coração (sim, aquele filme que dá sempre no Natal, passado nos Alpes Austríacos). Circulava por uma estrada belíssima, onde o verde imperava, com pequenas habitações de madeira (super bem cuidadas) a dar um toque de charme ao ambiente. Mas a cereja no topo do bolo, para os meus olhos, estava nos pequenos (mas gigantes, apenas estavam lá longe) cumes cobertos de neve, que contrastavam com o verde e castanho, tornando todo este espaço digno de um fundo de ecrã de qualquer computador que se preze.

Já era inicio da tarde quando cheguei a Cangas de Onís, mítica vila e porta de entrada Oeste dos Picos da Europa. Já tinha ouvido falar muito de Cangas de Onís e sinceramente surpreendeu-me na chegada. Muito maior e com muito mais gente do que estava à espera. Não posso deixar de referir a emblemática Ponte Romana, impossível ficar indiferente a quem passa por aqui. Com mais 600 anos desde a sua construção, a sua forma invulgar (muito inclinada, formando um grande arco) levou-me a estacionar o mais rápido possível (foi difícil arranjar lugar) e caminhar o mais rápido possível para junto da ponte para uma pequena sessão de fotos. Ao chegar perto, quase tão impressionante como a ponte e é a cor do rio Sella. Um verde azulado, a transpirar beleza e tranquilidade. Estava um dia muito bonito e estava a adorar estar por ali. Após uma boa dose de fotos e subidas ao centro da ponte, caminhei em direção ao centro de Cangas de Onís. Tal como já mencionei, maior do estava à espera. Penso ser a localidade de maior dimensão nas imediações dos Picos. À boa maneira espanhola, emana qualidade de vida entre o residentes. Muita gente na rua, comércio a funcionar, tudo muito limpinho, espaços verdes com fartura, lojas carregadas de queijos Cabrales (um ícone da região) e muitos malabaristas a tentar entornar sidra para um copo. Juro que a primeira vez que vi um senhor com uma garrafa de vidro acima do ombro, a entornar uma bebida amarela para dentro de um copo quase ao nível do chão, pensei que fosse um artista armado em homem do circo. Quando vi mais e mais um, e mais um, percebi, isto é mesmo assim. Já tinha ouvido falar na sidra das Astúrias, mas fazia ideia do momento épico do acto de colocar a bebida no copo. Outra coisa, como não se coloca mais de dois dedos de bebida no copo, o momento (épico) é repetido várias vezes.

Terminado o passeio por Cangas de Onís, era tempo de encontrar o local para dormir. Quer dizer já estava encontrado previamente. Neste dia tinha de dormir, obrigatoriamente, num Parque de Campismo. Há dois dias que não tomava banho, há dois que não tinha acesso à internet (não era o ponto mais importante) e ainda precisava de renovar as águas do meu “castelo andante”. O Camping Picos da Europa, a cerca de 15km de Cangas de Onís, era o único aberto na região. A maior parte apenas iniciava actividade do dia 1 de Abril e não exista outra hipótese. Depois de lá chegar, para além da única hipótese, pareceu-me logo uma boa hipótese. Todo relvado, boas casas de banho e uma vista muito bonita para alguns dos cumes dos Picos da Europa. Revolvi no momento ficar duas noites por ali e tornar este local na minha base para conhecer melhor a região. Assim, revolvi descansar o resto do dia pelo parque e guardar o próximo dia para a imersão nos Picos Asturianos, com os Lagos de Covadonga como cabeça de cartaz.

O banho soube tão bem. Abri a esplanada no Meu Escritório e aproveitei a vista. Mais uma vez, senti-me abençoado.

O dia nasceu bonito em Puerto de Vega. Quando coloquei a cabeça fora da carrinha, já os meus vizinhos suecos tinham partido. As nossas carrinhas eram as únicas no gigante parque de auto-caravanas desta simpática aldeia piscatória. Tomei o pequeno almoço, no interior da carrinha, com a porta lateral aberta. Tinha vista deslumbrante, a partir do Meu Escritório, para o enorme Oceano Atlântico. Senti-me, naquele momento, um privilegiado pela vida que tenho. Sinto isso várias vezes. Mas naquele momento, tive de sorrir, por tão abençoado que me estava a sentir. E por algo tão simples. Comer uma banana e uma sandes, dentro de uma Fiat Ducato transformada em “mini-casa”. Acho que parte do meu trabalho é mesmo isso, dar palavras a momentos simples e transformá-los em momentos grandiosos, valorizando-os. Acabei a minha banana e segui caminho, eram 9h00.

Segui em direção a Cudillero. Outra aldeia piscatória, esta mais turística (seja lá o que isso for). Por sugestão de um amigo, que quando soube da minha viagem pelo norte de Espanha, me falou de Cudillero como um protótipo astúriano das Cinque Terre (cinco aldeias italianas junto ao mar, na região da Ligúria, muito bonitas). Cudillero fica a cerca de 40km de Puerto Vega, a viagem foi rápida, o pior veio depois. Impossível estacionar na aldeia (pelo menos para uma auto-caravana). Não era permitida a entrada de veículos grandes no centro de aldeia (perfeitamente aceitável) e a única rua que restava (na aldeia) estava lotada (como seria de esperar). Tive de deixar o meu “castelo andante” fora da aldeia e caminhar até ao centro. Uma descida aos ziguezagues, por uma estrada estreita e entre casas de 2 ou 3 andares, muito cuidadas e de cores garridas (e variadas, umas vermelhas, outras azuis, outras verdes…uma salada de fruta engraçada). Este caminhar apertado desaguou na praça central, junto mar e junto ao porto. Esta praça era cuidadosamente contornada por várias camadas de pequenos prédios, encavalitados em cima uns dos outros. Mais uma vez, com cores variadas, transformando a praça numa espécie de pequeno estádio, com uma abertura para o mar. Como cheguei cedo e fora da época alta, tinha a praça quase só para mim. Os muitos restaurantes que existem por ali (metade da praça são esplanadas) preparavam o almoço, ainda fechados, e lá fui dando uma olhadela pelos menus. Como seria de esperar, quase em exclusivo, peixe e marisco. Senti pena de não ficar para o almoço. O pouco que vi, tinha um tremendo bom aspecto (e já dava para sentir o cheiro do lume a fustigar o carvão). Uma espécie de sai do mar e vai para a mesa. Lá voltei para minha carrinha, desta vez num ziguezague ao contrário e a subir forte e feito. Foram cerca de 2km assim. Com este esforço, cheguei à carrinha pronto para almoçar (ironia, certo). Muito encantador este Cudillero

Estava a começar a ficar encantado com as Astúrias, que sempre associei aos Picos da Europa, montanhas e neve. Mas que me estava a presentear com pequenas pérolas à beira-mar. Depois de Cudillero conduzi o Meu Escritório em direção a Oviedo e ao interior das Astúrias. Seguia em direção aos Picos da Europa. Se estava a ficar encantado com as Astúrias, depressa fiquei completamente rendido. Nem 20km tinha feito em direção ao interior, deixando para trás pequenas aldeias (de filme) junto a um mar imenso, e dei por mim num cenário típico de um Música no Coração (sim, aquele filme que dá sempre no Natal, passado nos Alpes Austríacos). Circulava por uma estrada belíssima, onde o verde imperava, com pequenas habitações de madeira (super bem cuidadas) a dar um toque de charme ao ambiente. Mas a cereja no topo do bolo, para os meus olhos, estava nos pequenos (mas gigantes, apenas estavam lá longe) cumes cobertos de neve, que contrastavam com o verde e castanho, tornando todo este espaço digno de um fundo de ecrã de qualquer computador que se preze.

Já era inicio da tarde quando cheguei a Cangas de Onís, mítica vila e porta de entrada Oeste dos Picos da Europa. Já tinha ouvido falar muito de Cangas de Onís e sinceramente surpreendeu-me na chegada. Muito maior e com muito mais gente do que estava à espera. Não posso deixar de referir a emblemática Ponte Romana, impossível ficar indiferente a quem passa por aqui. Com mais 600 anos desde a sua construção, a sua forma invulgar (muito inclinada, formando um grande arco) levou-me a estacionar o mais rápido possível (foi difícil arranjar lugar) e caminhar o mais rápido possível para junto da ponte para uma pequena sessão de fotos. Ao chegar perto, quase tão impressionante como a ponte e é a cor do rio Sella. Um verde azulado, a transpirar beleza e tranquilidade. Estava um dia muito bonito e estava a adorar estar por ali. Após uma boa dose de fotos e subidas ao centro da ponte, caminhei em direção ao centro de Cangas de Onís. Tal como já mencionei, maior do estava à espera. Penso ser a localidade de maior dimensão nas imediações dos Picos. À boa maneira espanhola, emana qualidade de vida entre o residentes. Muita gente na rua, comércio a funcionar, tudo muito limpinho, espaços verdes com fartura, lojas carregadas de queijos Cabrales (um ícone da região) e muitos malabaristas a tentar entornar sidra para um copo. Juro que a primeira vez que vi um senhor com uma garrafa de vidro acima do ombro, a entornar uma bebida amarela para dentro de um copo quase ao nível do chão, pensei que fosse um artista armado em homem do circo. Quando vi mais e mais um, e mais um, percebi, isto é mesmo assim. Já tinha ouvido falar na sidra das Astúrias, mas fazia ideia do momento épico do acto de colocar a bebida no copo. Outra coisa, como não se coloca mais de dois dedos de bebida no copo, o momento (épico) é repetido várias vezes.

Terminado o passeio por Cangas de Onís, era tempo de encontrar o local para dormir. Quer dizer já estava encontrado previamente. Neste dia tinha de dormir, obrigatoriamente, num Parque de Campismo. Há dois dias que não tomava banho, há dois que não tinha acesso à internet (não era o ponto mais importante) e ainda precisava de renovar as águas do meu “castelo andante”. O Camping Picos da Europa, a cerca de 15km de Cangas de Onís, era o único aberto na região. A maior parte apenas iniciava actividade do dia 1 de Abril e não exista outra hipótese. Depois de lá chegar, para além da única hipótese, pareceu-me logo uma boa hipótese. Todo relvado, boas casas de banho e uma vista muito bonita para alguns dos cumes dos Picos da Europa. Revolvi no momento ficar duas noites por ali e tornar este local na minha base para conhecer melhor a região. Assim, revolvi descansar o resto do dia pelo parque e guardar o próximo dia para a imersão nos Picos Asturianos, com os Lagos de Covadonga como cabeça de cartaz.

O banho soube tão bem. Abri a esplanada no Meu Escritório e aproveitei a vista. Mais uma vez, senti-me abençoado.

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