Mação com arte

 

É fácil fazer um trocadilho entre arte e Mação. É uma história e uma relação que já vai longa.

Corria o ano de 2000 quando nas margens do rio Ocreza foi descoberta uma gravura com mais de 20.000 anos. Acho que nem a minha imaginação consegue ir tão longe. 20.000 anos. Percebem agora a expressão inicial: “uma relação que já vai longa”. Mas esta relação, duradoura, apenas começou a ser explorada ou descoberta em 1943, com um achado importante por parte do Dr. João Calado Rodrigues. Não foi uma gravura, a descoberta, mas sim alguns utensílios da Idade do Bronze. Outra forma de arte, portanto. Com a descoberta de 1943, nasceu a ideia de um museu, que apenas viria a ser concretizada em 1986. Com a descoberta de 2000 o museu, o então conhecido como Museu Dr. João Calado Rodrigues (a pessoa que descobriu o romance) ganhou novo fôlego e passou a denominar-se como Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo. Hoje, é muito mais do que um museu. É um centro de estudos e de investigação, ponto central de toda esta história, e uma espécie de cofre forte de um legado imenso. Sim, hoje a história da arte em Mação começa aqui.

Muitas vezes tomámos palavras como nossas e até conferindo-lhe, sem maldade, um sentido quase corriqueiro. Nesta afirmação incluo a palavra arte. Mas afinal o que é verdadeiramente a arte? Poderia procurar uma definição rígida e segui-la como lei. Mas não me parece o caminho. No entanto, também não quero banalizar palavras com um sentido tão nobre e importante. “Tudo é arte”, ouve-se e lê-se tantas vezes. Talvez até seja a definição certa para muitos. Talvez o todo possa ser visto de uma forma particular, conseguido o abstrato afunilar o banal, obtendo assim algo único. No meio desta minha busca por uma linha orientadora, cruzei-me no museu com uma frase, que apontei no meu caderninho de imediato e que dizia, mais ou menos, isto: “…a arte é uma dupla ilusão. Mãos que são gestos que significam ideias e palavras. Mas também é o olhar de quem a vê que lhe confere sentido e significado. É o olhar do outro que identifica o produto do artista. Por isso, a arte é o gesto transformado em identidade, e é no contexto, e não no objecto artístico”. Senti-me confortado ao ler estas palavras. Não encontrei A definição de arte, talvez nem exista A definição de arte. Mas senti-me confortado. Tudo gira à volta das emoções. Emoções que o artista coloca numa peça ou numa habilidade. Emoções que o espectador sente quando confrontado com uma peça ou com uma habilidade. Estando o foco da questão assente nesta última, não existe arte, se ela não for valorizada. Não existe arte se o artística não colocar uma parte de si na sua obra, conferindo-lhe identidade, sendo também influenciado pelo ambiente que o envolve e que o inspira. Também consigo validar arte com experiência e com turismo. Tudo relacionado com emoções, memórias e histórias. Perante todas estas reflexões, e agora no presente, sinto-me, mais uma vez, confortado. Neste caso confortado em relação a Mação. Não tenho dúvida que Mação é um polo de arte, com uma história que se transformou num legado. E ao escrever estas palavras sobre Mação, também me sinto um artista local. Um artista inspirado por uma terra e pelas suas gentes e tradições. Dou por mim a sentir orgulho por fazer parte deste legado.

Outra das conclusões das minhas reflexões é que o museu é um óptimo ponto de partida, para inspirar e para definir estratégias. Depois devemos ganhar asas e explorar a arte de Mação. E sim, toca-lá, cheirá-la e senti-la de uma forma mais verdadeira. Perceber porque os nossos antepassados por aqui assentaram arraias e produziram a sua arte. Talvez, depois, encontrar o nosso cantinho para produzirmos a nossa própria arte. Como movimento circular, não fazendo da arte algo fechado, como ir do ponto A até o ponto B, através de uma recta. Por isso, e pegando mais uma vez nas minhas reflexões, arte também é um processo. Um processo de construção, até chegar à parte da emoção. Acredito que tenho sido isso que o Dr. João Calado sentiu quando, em 1943, descobriu os primeiros utensílios dos povos do nosso passado. Uma emoção daquelas que aperta o peito e faz os olhos brilharem. Voltando mais uma vez ao processo e à minha viagem pelo museu, do qual saí não com vontade de “somente” descobrir a arte que existe em Mação, mas também inspirar-me em Mação para criar a minha arte.

Cobragrança, Anta da Foz do Rio Frio, Anta da Lajinha, Castelo Velho do Caratão, Pego da Rainha e vale da Zimbreira, a Ponte Romana da Ladeira, o Ocreza, toda a floresta e todo o património edificado, aldeias e seus pequenos santuários, são formas de arte e formas de chegar a arte. É delicioso descobrir Mação. Sinto-o sempre como um desafio. Tão fácil me sentir inspirado por ali, tão difícil me sentir satisfeito. Nunca parece suficiente. É um território genialmente difícil de fechar um ciclo, talvez pela sua dimensão. Quase como um cavalo difícil de domar, parece existe sempre uma desafio novo, parece a paisagem se molda e se apodera de nós. Até as formas de arte já existentes são um desafio. Quase como uma caça ao tesouro, com um guardião chamado Natureza. Temos de nos provar dignos para completarmos tais peças. Mas quando lá chegamos. Bem, é ouro. É ouro como a primeira luz do dia a fazer reflexo na Anta do Rio Frio, com o Tejo como pano de fundo. É ouro como a última luz do dia a iluminar as águas da Pracana que atravessam a lindíssima Ponte Romana da Ladeira, que marca um dos finais do território de Mação. Ligar todos estes pontos (e mais alguns) ou seguir sem rumo, é seguir o mesmo caminho dos primeiros caçadores ou dos explorados romanos. Não é emocionante?

Mação, para mim, será sempre um território de regressos e reencontros. Uma inspiração para mim, também um artista de Mação. 

 

É fácil fazer um trocadilho entre arte e Mação. É uma história e uma relação que já vai longa.

Corria o ano de 2000 quando nas margens do rio Ocreza foi descoberta uma gravura com mais de 20.000 anos. Acho que nem a minha imaginação consegue ir tão longe. 20.000 anos. Percebem agora a expressão inicial: “uma relação que já vai longa”. Mas esta relação, duradoura, apenas começou a ser explorada ou descoberta em 1943, com um achado importante por parte do Dr. João Calado Rodrigues. Não foi uma gravura, a descoberta, mas sim alguns utensílios da Idade do Bronze. Outra forma de arte, portanto. Com a descoberta de 1943, nasceu a ideia de um museu, que apenas viria a ser concretizada em 1986. Com a descoberta de 2000 o museu, o então conhecido como Museu Dr. João Calado Rodrigues (a pessoa que descobriu o romance) ganhou novo fôlego e passou a denominar-se como Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo. Hoje, é muito mais do que um museu. É um centro de estudos e de investigação, ponto central de toda esta história, e uma espécie de cofre forte de um legado imenso. Sim, hoje a história da arte em Mação começa aqui.

Muitas vezes tomámos palavras como nossas e até conferindo-lhe, sem maldade, um sentido quase corriqueiro. Nesta afirmação incluo a palavra arte. Mas afinal o que é verdadeiramente a arte? Poderia procurar uma definição rígida e segui-la como lei. Mas não me parece o caminho. No entanto, também não quero banalizar palavras com um sentido tão nobre e importante. “Tudo é arte”, ouve-se e lê-se tantas vezes. Talvez até seja a definição certa para muitos. Talvez o todo possa ser visto de uma forma particular, conseguido o abstrato afunilar o banal, obtendo assim algo único. No meio desta minha busca por uma linha orientadora, cruzei-me no museu com uma frase, que apontei no meu caderninho de imediato e que dizia, mais ou menos, isto: “…a arte é uma dupla ilusão. Mãos que são gestos que significam ideias e palavras. Mas também é o olhar de quem a vê que lhe confere sentido e significado. É o olhar do outro que identifica o produto do artista. Por isso, a arte é o gesto transformado em identidade, e é no contexto, e não no objecto artístico”. Senti-me confortado ao ler estas palavras. Não encontrei A definição de arte, talvez nem exista A definição de arte. Mas senti-me confortado. Tudo gira à volta das emoções. Emoções que o artista coloca numa peça ou numa habilidade. Emoções que o espectador sente quando confrontado com uma peça ou com uma habilidade. Estando o foco da questão assente nesta última, não existe arte, se ela não for valorizada. Não existe arte se o artística não colocar uma parte de si na sua obra, conferindo-lhe identidade, sendo também influenciado pelo ambiente que o envolve e que o inspira. Também consigo validar arte com experiência e com turismo. Tudo relacionado com emoções, memórias e histórias. Perante todas estas reflexões, e agora no presente, sinto-me, mais uma vez, confortado. Neste caso confortado em relação a Mação. Não tenho dúvida que Mação é um polo de arte, com uma história que se transformou num legado. E ao escrever estas palavras sobre Mação, também me sinto um artista local. Um artista inspirado por uma terra e pelas suas gentes e tradições. Dou por mim a sentir orgulho por fazer parte deste legado.

Outra das conclusões das minhas reflexões é que o museu é um óptimo ponto de partida, para inspirar e para definir estratégias. Depois devemos ganhar asas e explorar a arte de Mação. E sim, toca-lá, cheirá-la e senti-la de uma forma mais verdadeira. Perceber porque os nossos antepassados por aqui assentaram arraias e produziram a sua arte. Talvez, depois, encontrar o nosso cantinho para produzirmos a nossa própria arte. Como movimento circular, não fazendo da arte algo fechado, como ir do ponto A até o ponto B, através de uma recta. Por isso, e pegando mais uma vez nas minhas reflexões, arte também é um processo. Um processo de construção, até chegar à parte da emoção. Acredito que tenho sido isso que o Dr. João Calado sentiu quando, em 1943, descobriu os primeiros utensílios dos povos do nosso passado. Uma emoção daquelas que aperta o peito e faz os olhos brilharem. Voltando mais uma vez ao processo e à minha viagem pelo museu, do qual saí não com vontade de “somente” descobrir a arte que existe em Mação, mas também inspirar-me em Mação para criar a minha arte.

Cobragrança, Anta da Foz do Rio Frio, Anta da Lajinha, Castelo Velho do Caratão, Pego da Rainha e vale da Zimbreira, a Ponte Romana da Ladeira, o Ocreza, toda a floresta e todo o património edificado, aldeias e seus pequenos santuários, são formas de arte e formas de chegar a arte. É delicioso descobrir Mação. Sinto-o sempre como um desafio. Tão fácil me sentir inspirado por ali, tão difícil me sentir satisfeito. Nunca parece suficiente. É um território genialmente difícil de fechar um ciclo, talvez pela sua dimensão. Quase como um cavalo difícil de domar, parece existe sempre uma desafio novo, parece a paisagem se molda e se apodera de nós. Até as formas de arte já existentes são um desafio. Quase como uma caça ao tesouro, com um guardião chamado Natureza. Temos de nos provar dignos para completarmos tais peças. Mas quando lá chegamos. Bem, é ouro. É ouro como a primeira luz do dia a fazer reflexo na Anta do Rio Frio, com o Tejo como pano de fundo. É ouro como a última luz do dia a iluminar as águas da Pracana que atravessam a lindíssima Ponte Romana da Ladeira, que marca um dos finais do território de Mação. Ligar todos estes pontos (e mais alguns) ou seguir sem rumo, é seguir o mesmo caminho dos primeiros caçadores ou dos explorados romanos. Não é emocionante?

Mação, para mim, será sempre um território de regressos e reencontros. Uma inspiração para mim, também um artista de Mação. 

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