Luís esteves, capitão mação.

 

Luis Esteves, 36 anos, vive Mação. Também vive em Mação (aqui no sentido físico, além do sentido), na pequena e singular aldeia do Pereiro. É capitão da equipa de futebol local e técnico florestal numa associação do município. O título desta história não é original, já foi utilização numa reportagem sobre o Luis e sobre Mação, para um programa de TV, mas assenta-lhe tão bem, quase como o  adjetivo que o define melhor, que se torna obrigatória esta repetição. O Luis é gente boa e um dos retratos obrigatórios desta região.

Dentro de toda a simpatia, humildade e disponibilidade do Luis, não foi à primeira, nem à segunda que acertámos a data para a nossa conversa e “passeio” por Mação. Para além de técnico florestal de profissão, é jogador de futebol (e capitão) na equipa local, que disputa o Campeonato de Portugal (equivalente à 3ª Divisão nacional, portanto, já não é coisa a brincar), ainda é treinador das camadas jovens, ainda é apicultor, tem alguns hectares de floresta onde, segundo ele, faz umas experiências florestais, e ainda ajuda no seu pai nas lides agrícolas. O mais impressionante, é que todas estas atividades exigem uma intervenção quase diária. Quando lhe apertei a mão no seu escritório, onde acredito que passe pouco tempo, junto à Igreja Matriz de Mação, num suspiro de admiração só me apeteceu dizer-lhe: “Luis não quero que me ensines nada sobre floresta, ensina-me só como gerir o tempo”. Como não lhe fiz esta pergunta, ele não me respondeu. Mas ao longo do dia que passámos juntos, percebi com alguma facilidade a resposta. O Luis tem um amor à sua terra, e às suas gentes, como muito poucas vezes vi.

Depois do cumprimento inicial e de algumas palavras (eu já conhecia o Luis), lá partimos em direção à sua floresta. Floresta neste território é quase um sinónimo de Mação. Mação é floresta, floresta é Mação. Minutos depois da partida do centro da vila, estávamos num dos pontos mais altos do território. Entre as indicações sobre o nome das aldeias que estávamos a ver, quase que encastradas entre montes e vales, percebi aquilo que eu já sabia Mação é gigante. Não só em área, mas em dimensão. Não se mede só em quilómetros, mede-se em carácter. Um carácter que também se pode avaliar pela capacidade de sobrevivência deste povo e desta terra à tragédia que os abalou em 2017. 70% do território de Mação, em poucos dias, ardeu por completo. Faixas enormes de floresta, simplesmente desapareceram. Para perceber a aflição vivida, basta sentir o olhar e voz embargada do Luis, a descrever os seus dias no tal Verão de 2017. Mas em segundos, a voz embargada, passa a uma voz convicta e de esperança. Quase como um “não se pode apagar o passado”, mas “existe um futuro, que pode risonho”. E com o potencial natural que Mação tem, não tenho dúvidas que o futuro pode ser risonho. Parece meio abstrato, ou fantasista, mas sinto que a Natureza acompanha as palavras de esperança do Luis. Natureza também é sinónimo de Mação, e não acredito que deixe à deriva esta terra e a sua boa gente, personificada por mim, na pessoa do Luis.

Deixando este primeiro ponto mais alto, seguiram-se muitos outros. Cimos de montes, fundos de vales, cascatas que me fizeram lembrar o Gerês, ribeiras em planícies a lembrar um qualquer filme de exploração de ouro do oeste norte americano, aldeias de contos de fadas, vilas termais, pontes romanas, tascas com gente encantadora que parece que ficaram perdidas no tempo (no bom sentido do perdido), nascentes de água, capelas em lugares inóspitos, miradouros com alcance até ao dobrar do horizonte, e tudo isto no seu estado mais virgem. Eu, já perdido, entre pequenas estradas de terra batida, sem fazer ideia se seguia para sul ou para norte, mas com total confiança no conhecimento do Luis, seguia encantado com o que estava a ver e viver. O Luis não é um guia turístico (mas tem potencial, mas acredito que tenha mais que fazer com o seu tempo), este é o seu dia-a-dia, e este lugar o seu escritório da grande parte das horas. A julgar pelo número de telefonemas que recebeu durante a nossa “caminhada”, quer do senhor Manuel, que queria que o Luis lhe marcasse um terreno, quer do senhor Jose, que queria a sua mini floresta limpa, quer de muitas outras solicitações relacionadas com aquilo que é o dia-a-dia a viver a floresta e, neste caso, a viver Mação, acredito que a missão do Luis tenha tanto de gratificante como de desafiante, e até como de desgastante. Isto para mim, porque para o Luis parece ser “apenas” um prazer imenso. Acredito que seja feito para esta profissão e, sobretudo, feito para este lugar. Sinceramente, nem o consigo imaginar (e eu sou uma pessoa de imaginação fértil) fora de Mação. 

Durante o nosso dia de “passeio”, falámos sobre muitas coisas além da floresta. Falámos sobre a vida, sobre viagens e também futebol (gosto em comum). Já perto da despedida, e como era 6a feira e aproximava-se o jogo do fim-de-semana, perguntei ao Luis como estava a moral para o próximo jogo (o Mação, equipa pequena, disputa o campeonato com equipas profissionais e com orçamentos milionários), ao que o Luis me respondeu, com um sorriso confiante: “sabemos que vai ser difícil, mas vamos para ganhar”. Esta simples frase, associada ao futebol, diz muito daquilo que é Mação, a sua terra e gente. Podem perder algumas vezes, mas vão ganhar a maioria, mesmo com todas as adversidades que o abstrato da vida lhes causou.

Visitem Mação, vale a pena. Se possível pelo Luis, o capitão Mação. A experiência vai ser diferente, para melhor.

 

Luis Esteves, 36 anos, vive Mação. Também vive em Mação (aqui no sentido físico, além do sentido), na pequena e singular aldeia do Pereiro. É capitão da equipa de futebol local e técnico florestal numa associação do município. O título desta história não é original, já foi utilização numa reportagem sobre o Luis e sobre Mação, para um programa de TV, mas assenta-lhe tão bem, quase como o  adjetivo que o define melhor, que se torna obrigatória esta repetição. O Luis é gente boa e um dos retratos obrigatórios desta região.

Dentro de toda a simpatia, humildade e disponibilidade do Luis, não foi à primeira, nem à segunda que acertámos a data para a nossa conversa e “passeio” por Mação. Para além de técnico florestal de profissão, é jogador de futebol (e capitão) na equipa local, que disputa o Campeonato de Portugal (equivalente à 3ª Divisão nacional, portanto, já não é coisa a brincar), ainda é treinador das camadas jovens, ainda é apicultor, tem alguns hectares de floresta onde, segundo ele, faz umas experiências florestais, e ainda ajuda no seu pai nas lides agrícolas. O mais impressionante, é que todas estas atividades exigem uma intervenção quase diária. Quando lhe apertei a mão no seu escritório, onde acredito que passe pouco tempo, junto à Igreja Matriz de Mação, num suspiro de admiração só me apeteceu dizer-lhe: “Luis não quero que me ensines nada sobre floresta, ensina-me só como gerir o tempo”. Como não lhe fiz esta pergunta, ele não me respondeu. Mas ao longo do dia que passámos juntos, percebi com alguma facilidade a resposta. O Luis tem um amor à sua terra, e às suas gentes, como muito poucas vezes vi.

Depois do cumprimento inicial e de algumas palavras (eu já conhecia o Luis), lá partimos em direção à sua floresta. Floresta neste território é quase um sinónimo de Mação. Mação é floresta, floresta é Mação. Minutos depois da partida do centro da vila, estávamos num dos pontos mais altos do território. Entre as indicações sobre o nome das aldeias que estávamos a ver, quase que encastradas entre montes e vales, percebi aquilo que eu já sabia Mação é gigante. Não só em área, mas em dimensão. Não se mede só em quilómetros, mede-se em carácter. Um carácter que também se pode avaliar pela capacidade de sobrevivência deste povo e desta terra à tragédia que os abalou em 2017. 70% do território de Mação, em poucos dias, ardeu por completo. Faixas enormes de floresta, simplesmente desapareceram. Para perceber a aflição vivida, basta sentir o olhar e voz embargada do Luis, a descrever os seus dias no tal Verão de 2017. Mas em segundos, a voz embargada, passa a uma voz convicta e de esperança. Quase como um “não se pode apagar o passado”, mas “existe um futuro, que pode risonho”. E com o potencial natural que Mação tem, não tenho dúvidas que o futuro pode ser risonho. Parece meio abstrato, ou fantasista, mas sinto que a Natureza acompanha as palavras de esperança do Luis. Natureza também é sinónimo de Mação, e não acredito que deixe à deriva esta terra e a sua boa gente, personificada por mim, na pessoa do Luis.

Deixando este primeiro ponto mais alto, seguiram-se muitos outros. Cimos de montes, fundos de vales, cascatas que me fizeram lembrar o Gerês, ribeiras em planícies a lembrar um qualquer filme de exploração de ouro do oeste norte americano, aldeias de contos de fadas, vilas termais, pontes romanas, tascas com gente encantadora que parece que ficaram perdidas no tempo (no bom sentido do perdido), nascentes de água, capelas em lugares inóspitos, miradouros com alcance até ao dobrar do horizonte, e tudo isto no seu estado mais virgem. Eu, já perdido, entre pequenas estradas de terra batida, sem fazer ideia se seguia para sul ou para norte, mas com total confiança no conhecimento do Luis, seguia encantado com o que estava a ver e viver. O Luis não é um guia turístico (mas tem potencial, mas acredito que tenha mais que fazer com o seu tempo), este é o seu dia-a-dia, e este lugar o seu escritório da grande parte das horas. A julgar pelo número de telefonemas que recebeu durante a nossa “caminhada”, quer do senhor Manuel, que queria que o Luis lhe marcasse um terreno, quer do senhor Jose, que queria a sua mini floresta limpa, quer de muitas outras solicitações relacionadas com aquilo que é o dia-a-dia a viver a floresta e, neste caso, a viver Mação, acredito que a missão do Luis tenha tanto de gratificante como de desafiante, e até como de desgastante. Isto para mim, porque para o Luis parece ser “apenas” um prazer imenso. Acredito que seja feito para esta profissão e, sobretudo, feito para este lugar. Sinceramente, nem o consigo imaginar (e eu sou uma pessoa de imaginação fértil) fora de Mação. 

Durante o nosso dia de “passeio”, falámos sobre muitas coisas além da floresta. Falámos sobre a vida, sobre viagens e também futebol (gosto em comum). Já perto da despedida, e como era 6a feira e aproximava-se o jogo do fim-de-semana, perguntei ao Luis como estava a moral para o próximo jogo (o Mação, equipa pequena, disputa o campeonato com equipas profissionais e com orçamentos milionários), ao que o Luis me respondeu, com um sorriso confiante: “sabemos que vai ser difícil, mas vamos para ganhar”. Esta simples frase, associada ao futebol, diz muito daquilo que é Mação, a sua terra e gente. Podem perder algumas vezes, mas vão ganhar a maioria, mesmo com todas as adversidades que o abstrato da vida lhes causou.

Visitem Mação, vale a pena. Se possível pelo Luis, o capitão Mação. A experiência vai ser diferente, para melhor.

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