Luis Sousa Ferreira, homem de Cem Soldos, rapaz da aldeia, respira cultura. 35 anos e formado em design, é uma das irreverentes mentes inquietas e criativas que idealizaram e criaram o já icónico Festival Bons Sons, que transforma a aldeia de Cem Soldos num gigante palco de música e criatividade numa sintonia 100% nacional. Entre muitas outras coisas, é o programador cultural do projeto Caminhos (Cultura em rede na região do Médio Tejo) e diretor do (genial) 23 Milhas, em Ílhavo. Para mim, uma das figuras mais interessantes do Médio Tejo.

Encontrei-me com o Luis em Cem Soldos, a sua aldeia natal, numa tarde de sol de inverno. Existem dois Cem Soldos, um em tempo de festival, outro fora festival. Bem diferentes, mas com uma ligação embrionária. Talvez não faça grande sentido um Bons Sons fora de Cem Soldos, talvez Cem Soldos se tenha tornado definitivamente mutante com os Bons Sons. E o Luis e sua geração, são os grandes responsáveis por isso. Grande vénia por este feito, que resulta numa admiração sentida. Literalmente, fechar uma aldeia para que esta se transforme num festival fora do comum, não está, definitivamente ao alcance de todas as comunidades. E um bando de jovens, não só o conseguiu, como o conseguiu bem feito. Basta ver que este ano se realiza a 10ª edição do festival, em 13 anos de vida. Desde o inicio da era Bons Sons que olho para Cem Soldos com admiração, como um exemplo a seguir a até como uma espécie de caso de estudo, ligado a boas práticas. Talvez por também ser um rapaz de aldeia, percebo bem a complexidade e as dificuldades. Vai muito além de escolher os melhores músicos. É sobretudo um acto genial de gerir pessoas e unir uma comunidade. É quase caso para dizer que o Bons Sons é muito mais do que um festival. São pessoas, é cultura, é uma aldeia, e também é esperança e determinação. Um festival pode ser, simplesmente, um menu de músicos.

Falámos abertamente e empaticamente na sede do Clube Operário de Cem Soldos, instituição que alberga o festival, e onde o Luis foi presidente durante 8 anos. Deixou o cargo no passado, mas a ligação à terra e ao festival,  essa parece ser eterna. Falámos das origens, do festival, do presente, do 23 milhas de Ílhavo, do futuro, de cultura. Falámos de vida e como ela relaciona com a cultura, como algo do dia-a-dia, não como pura e simplesmente entretenimento, nem como algo obrigatório, mas como algo presente, quase como um elemento natural como água ou fogo.

No fluir da conversa, foi natural perceber a ligação do Luis à sua terra, ponto de regresso firme, independente do mar navegado. Consigo, facilmente, fazer um paralelo com a minha pessoa e ligação à minha terra. O Luis com naturalidade, assim que pisa a terra de Cem Soldos, deixa de ser somente o “Luis, programador cultural, que algumas vezes vai à televisão”, para ser o Luísito, menino da terra. Não com qualquer sentido de diminuição, mas claramente a aumentar a dose de carinho. E como eu adoro que me tratem por Carlitos no meu Rossio.

Foi no largo da igreja, local onde já assisti alguns concertos no Bons Sons, que me despedi do Luis, que, quase que automaticamente, deixou de ser (apenas) o homem do Bons Sons, mas para ser, sobretudo, um homem de Cem Soldos e um homem da cultura. Sinto que o reencontro vai ser breve. Talvez em Agosto nos Bons Sons, na sua aldeia de Cem Soldos.

 

 

 

 

coordenadas: 39.586212,-8.452654

 

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

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