A estrada levou-me a lugares sem nome. Balcões dignos de um teatro nacional para quadros naturais. A estrada também me levou a lugares com nome. Piodão, Foz d’Égua, Benfeita, Pardieiros, Fraga da Pena, Côja, Vila Cova de Alva, Enxudro ou a vila de Arganil, são lugares concretos para colocar os sentidos à prova com as coisas mais simples. Percorrer as ruas de pedra de Piodão, sabendo que a aldeia que, de tão bonita e graciosa que é, parece um postal vivo, já foi lar de acolhimento de fugas de criminosos, que procuravam um lugar distante do mundo, fazendo com que muitas casas da aldeia não tivessem portas, nem janelas, viradas para a rua, com medo de roubos e visitas inesperadas. Molhar os pés na Foz d’Égua, com a noção clara que as águas das ribeiras das Chãs e de Piodão, fazem deste lugar uma espécie de mini éden, digno de convite de entrada. Ir à missa em Benfeita, de preferência no dia 7 de Maio, onde o chamamento é especial e feito com o número de badaladas coincidente com número de dias que durou a Segunda Grande Guerra Mundial, 1620 dias, 1620 badaladas. Ler um livro no alto dos Pardieiros, a sentir o cheiro a fresco vindo da Mata da Margaraça e alimentando-nos convenientemente deste lugar de uma simplicidade genial. Ouvir a água a percorrer o seu caminho na Fraga da Pena, admirando a beleza da sua cascata. Ouvir as histórias da pessoas genialmente banais de Côja, sabendo da grandiosidade do lugar. Beber uma cerveja no café Flôr do Alva em Vila Cova de Alva, a ouvir histórias de algibeira, para fazer esquecer o calor tórrido do coração de Portugal. Chegar ao planeta distante chamado Enxudro, esse lugar com nome Basco, onde o tempo não existe e que mais parece pertencer a filme onde a fantasia acontece. Passar pela Mourísia com o pensamento nas lendas de tesouros e mouras encantadas, alimentando as viagens por um lugar onde os elfos se sentiriam em casa. Admirar a aldeia de Soito da Ruiva, lá bem no alto, só a ouvir o vento. Ou andar pela genuína feira semanal da vila de Arganil e sentir que afinal Arganil é uma espécie de Torre de Babel de união de povos, funcionando a feira como ponto de encontro para inúmeras famílias vindas de diferentes e longínquos pontos do mundo, para fixar raízes em Arganil. Coisas tão simples, mas tão ricas e tão capazes de alimentar qualquer alma sedenta de coisas bonitas. Tudo lugares e experiências a que a bendita estrada me levou, muitas vezes sem eu lhe ordenar tal caminho. Simplesmente, levou-me.

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

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