Cortiça, Montado (e queijo e vinho 😉 ) e Alentejo, são nomes que se confundem entre si. Muito além do número de sobreiros (sim, é árvore de onde é extraída a cortiça), que molda e estereotipa muitas vezes a bonita paisagem alentejana, existe toda uma cultura associada à extração de cortiça. Por um lado, o factor necessidade, com um forte impacto na economia local. Por outro lado, ganhou o estatuto de arte rural, movida pelo orgulho do saber, e de passar esse saber de geração em geração. Aqui a máquina só entra na parte do transporte, o resto é 100% manual.

Geralmente aplica-se o termo Compadre, para qualificar a relação entre o Pai de um filho e o Padrinho do mesmo. Em quase todo o lado é assim. Mas no Alentejo, recheado de malta amistosa, levaram a coisa mais longe. Se tens mais de 30 anos, (ok, geralmente é um bocadinho mais) e amigos (acho que é uma conjugação fácil 😉 ), habilitas-te a que os teus amigos te tratem por Compadre. Quase qualificando-te como “és quase da família”. Pegando nesta maneira afectuosa de os amigos alentejanos se tratarem, surgiu o projeto Compadres. Projeto que pega em tradições ancestrais alentejanas e faz delas um produto turístico (muito bom, não!? 🙂 ). E foi precisamente isso que aconteceu com a arte do descortiçamento. O Compadres (a empresa/projecto) pegou nesta arte e fez dela um produto, de seu nome Rota do Montado.

Vivo e cresci a dois passos do Alentejo, adoro pessoas e experiências novas e autênticas, recebi um convite do Compadres para fazer a Rota do Montado, e qual a minha resposta (a obvia)? “a que horas tenho de lá estar?” 😉

A minha  experiência Rota do Montado (a de 1 dia, existem outros programas com mais dias e diferentes cenários) começou às 10h00 no Hotel Convento de São Paulo, em plena Serra d’ Ossa (perto de Redondo). Duas particularidades iniciais. Primeiro o Hotel Convento de São Paulo é muito mais do que um Hotel, é um espaço carregado(íssimo) de história (para terem uma noção foi erguido em 1182, mas vou falar dele mais à frente). Segunda particularidade, como o nome indica a Serra d’Ossa, é uma serra, portanto esqueçam a planície alentejana, montado em serra, só por si, é uma experiência (visual) diferente.

Vou chegar ao imponente Hotel Convento e partir de imediato para o campo (o hotel possui uma área de 600ha 😉 ). Já entre sobreiros e com vista para o Hotel Convento, tínhamos (eu e o grupo onde estava inserido) à nossa espera um pequeno banquete alentejano para alimentar o corpo e a mente. Vinho, queijo, pão, azeitonas, enchidos e mais umas coisas boas, faziam deste pequeno momento uma experiência dentro da experiência. Beber um vinho tinto da aldeia ao lado, pão caseiro, queijo como só existe no alentejo, para não falar nos enchidos que deveriam ser património mundial, tudo isto envolvido por uma paisagem que ao mesmo tempo é crua e afectuosa (não consigo explicar bem, mas é o que sinto), faz do acto de comer e beber muito mais do que comer e beber, é uma experiência (para mim, daquelas precious). Finda a bucha, era tempo de ir ver a malta a trabalhar (sim, porque aqui ajudar era equivalente a atrapalhar). Em cima das árvores estavam os mestres do descortiçamento. Sempre em duplas, existe um mestre e vice-mestre (fui eu que inventei os nomes). Neste processo, apenas o manegeiro (uma espécie de manager da cortiça alentejano 😉 este nome não inventei) está acima dos mestres, e abaixo a malta que faz os montes e que transporta a cortiça. E ainda a coqueira (a mulher que estava à coca de quando acabava o trabalho, e fazia a bucha para a malta). Existiam várias duplas distribuídas por várias árvores, na busca de retirar peças inteiras e de não fazer de uma peça um conjunto de vários bocados, que vale bastante menos. Apesar de a idade (não eram velhos, mas também não eram novos) é incrível a destreza desta malta em cima da árvore, que faz parecer deste trabalho bastante duro, uma coisa fácil de fazer. Para mim não é novo, vivo desde sempre em terra de montado, sempre tive amigos a trabalhar na cortiça, sempre soube que a cortiça vinha do sobreiro e sempre soube distinguir uma azinheiro de um sobreiro (primeiro nível de conhecimento sobre cortiça completo 😉 ). Por ali andámos toda a manhã, a ver o Manel Custódio e seus pares, a “descascar” sobreiros.

Passadas umas horas, a bela bucha da manhã já não se fazia sentir no estômago e o meu corpinho já chamava pelo almoço. Era tempo de voltar o Hotel Convento. Mesa posta num dos (muitos) jardins do hotel, gaspacho (sopa fria de tomate) e borrego assado no forno (tão alentejano) para o petisco. Segundo dizem, em Roma sê romano e no Alentejo sê alentejano. Com este petisco divinal até um norueguês fica a sentir-se alentejano durante 1h30m. Para a digestão uma visita guiada ao Hotel Convento muitíssimo bem dirigida bem seu diretor Eduardo Bon de Sousa. Quartos em antigas celas de monges, corredores infinitos, jardins de filme, fontes belíssimas, uma capela que nos faz viajar no tempo e um sem fim de histórias por contar, fazem deste hotel muito mais do que um hotel (espera lá, já tinha dito isto! :). É na verdade, uma verdadeira experiência este hotel, em qualquer altura do ano, fugindo (tirando os sobreiros e sotaque dos funcionários) até um pouco ao que é considerado padrão no Alentejo (para além de ficar num serra no Alentejo, é quase como ir à praia no deserto). Um retiro em forma de hotel/museu em plena serra alentejana.

Feita a despedida do hotel, era tempo de passar pela parte final processo da produção de cortiça. Aquela etapa mesmo antes chegar a nossa casa, em forma de rolha, mala, sapatos, mobiliário ou até mesmo chegar a nossa casa antes de nós,sob a forma de isolamento. Fomos conhecer a fábrica Cortiçarte em Azaruja, perto de Évora. Apesar de interessante conhecer esta fase do processo, para mim, a cultura, arte, natureza e mais uma quantas coisas boas que vivi ao longo deste dia, até momento, abafaram por completo o momento vivido nesta fase industrial e dei por mim a pensar em que tasca estaria o Manel Custódio e seus amigos. Sendo que que fugiria da fábrica, para ouvir mais umas histórias de cortiça.

Resumindo. Muitíssimo recompensadora, esta experiência. Trabalho de louvar destes Compadres (a empresa/projecto). Já fiquei cheio de vontade de experimentar as outras rotas (do mármore, pica-chouriço e do fresco).

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