Já depois de ter percorrido as ruas apertadas da vila, encontrei o senhor António Pinto no cais de Vila Velha, com o seu gato Tejo (nome original), a pescar. O senhor António, do alto dos seus 71 anos, é uma figura carismática. Percebi isso ainda não tinha começado a falar com este mestre de água doce. Pele enrugada e morena, bigode e chapéu mexicano, postura descontraída e fotografia do neto a sair-lhe do bolso. Nem 5 minutos de conversa e o senhor António já me tinha contado sobre o lugar onde nasceu, que com 1 mês de vida já estava no rio, que a sua juventude era dividida entre uma ilha no meio do rio e Vila Velha, fruto da sazonalidade do leito do rio (antes das barragens), também me contou como o rio era diferente e como a vida era dura. Sempre a sorrir. Gostei muito do senhor António. Depois ainda me contou que foi militar em Moçambique e que por lá casou, que regressou a Vila Velha e que teve um minimercado durante 39 anos. Hoje, reformado, pesca por diversão. Muitas das vezes só para dar alimento ao seu companheiro Tejo. Nunca parou de sorrir e já íamos na meia hora de conversa. Confesso que por vezes desligava da conversa do momento e viajava no tempo a imaginar o senhor António há 40 anos. Gostei muito do senhor António. Sim, eu sei que já tinha mencionado isto, mas sinto necessidade de reforçar. Cada vez que pensar no Tejo e em Vila Velha de Rodão, vou recordar-me dele. As pessoas fazem os lugares e, para mim, Vila Velha de Rodão é muito o senhor António.

 

Esta história pertence ao projeto Retratos do Centro de Portugal. Vão ser construídos 365 retratos, 365 pequenas histórias, sobre toda a grande Região Centro de Portugal. Podem consultar todos os retratos aqui.

 

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